Dois golpes sem medida
Não são os servidores públicos os responsáveis pela estagnação administrativa do estado do Paraná, mas sim a falta de projeto e de planejamento do governo
Por Carlos Roberto Bittencourt*
Ao buscar aliados entre o patronato ruralista do Paraná, entre aqueles que acreditam ser os donos do setor produtivo paranaense, com o objetivo de congelar os salários dos servidores públicos do estado, o governo Beto Richa mais uma vez faz uso de um expediente que tem por base o oportunismo e, como ferramenta, a chantagem fiscal.
O governo faz de conta que ameaça os representantes patronais com aumento de impostos para que pressionem o Legislativo na busca de apoio à iniciativa ilegal e imoral de revogar a data-base do funcionalismo público no texto da Lei de Diretrizes Orçamentárias 2017, que seguirá à Assembleia Legislativa do Paraná.
A estratégia de Beto Richa e de seus aliados está em jogar uns contra os outros, enquanto buscam uma justificativa para a sua investida contra os funcionários que garantem a prestação de serviços públicos aos paranaenses e assistem de camarote, desde o Palácio Iguaçu, ao resultado das costuras que o governador mandou fazer.
O mesmo governo que contrata cargos em comissão ilegalmente para estatais como a Cohapar e a Sanepar, e que mantém apadrinhados políticos em postos de assessores estratégicos em empresas públicas, sem que essas pessoas tenham qualquer aptidão técnica ou afinidade com o posto, quer fazer com que o povo paranaense culpe os servidores de carreira pela crise e transfira aos trabalhadores o ônus de arcar com cortes na própria carne.
Não são os servidores públicos os responsáveis pela estagnação administrativa do estado do Paraná, mas sim a falta de projeto e de planejamento de um governo que privilegia aliados políticos em detrimento do conhecimento e da técnica. Um governo que ano após ano contribui para o engessamento do quadro público do estado e o sucateamento da máquina pública. Prova disso é a não recomposição do quadro de servidores do Emater, mesmo após dois anos da realização de concurso público. Quem paga esta conta são os agricultores familiares e, no fim da cadeia produtiva, os cidadãos que veem o alimento rarear nas suas mesas. Quanto a isso nada fazem os ruralistas de plantão, coronéis que há décadas e décadas representam o patronato da agricultura paranaense, num modelo hierárquico que se assemelha a uma espécie de CBF.
O Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR) não é conivente com mais este golpe contra os servidores públicos. Antes mesmo do triste 29 de abril de 2015, o nosso sindicato já havia se manifestado em defesa dos professores e de todos os servidores contra a tentativa do governo de mexer nos recursos da Paranaprevidência.
Estamos alertas às manobras governistas que se costuram com o suporte do empresariado que, ameaçado por uma suposta alta de impostos que seria na verdade moeda de troca, se aproxima do Legislativo justamente num ano de eleições municipais. Não há mais espaço para a politicagem no Paraná e no Brasil, e muito menos para a injustiça contra os trabalhadores do setor público.
Não precisamos fazer exercício de futurologia para saber que a próxima cartada de Beto Richa estará em dizer que a ação contra os servidores é uma recomendação do governo federal interino dentro do pacote de renegociação de dívida com os estados.
O Senge-PR, sindicato com 80 anos de história em solo paranaense, defensor da democracia, do Estado de direito, dos servidores públicos que representa e dos demais trabalhadores que contribuem para o desenvolvimento do nosso estado e do nosso país, não reconhece tais medidas como legítimas. São golpes sem medida contra os servidores e contra o nosso povo.
* Carlos Roberto Bittencourt, engenheiro agrônomo, é presidente do Senge-PR.
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