Vamos falar sobre a intervenção do mercado na Copel

Empresa contrata serviços da Copel Telecom que pertencia a ela

Governador Ratinho Junior e presidentes da Copel e Copel Telecom comemoram privatização. Foto: Rodrigo Félix Leal/Aen
Comunicação
17.MAR.2022

Por Manoel Ramires/Senge-PR

Anote esses alertas. FRASE 1: “Você venderia sua galinha dos ovos de ouro e passaria a comprar os ovos dela? Você venderia sua fábrica para, no dia seguinte, começar a comprar sua própria produção?” FRASE 2: “Sempre afirmei que a venda da Copel Telecom era desnecessária e o dinheiro iria para os bolsos dos grandes investidores”. FRASE 3: “O contrato gera polêmica porque o Paraná estaria contratando um serviço que já era prestado pela ex-empresa pertencente à Copel antes da venda de parte da companhia”. 

Todas frases foram ditas pelo Senge-PR, Fórum Paranaense em Defesa da Copel e por deputados da oposição que alertavam o quanto seria lesiva a privatização da Copel Telecom em um cenário em que a demanda por banda larga e tecnologia cresceriam no Paraná e no país. Mas os alertas foram propositalmente ignorados pelo governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e pelo presidente da Copel, Daniel Slaviero Pimentel. Estes que sabiam que o Paraná teria que contratar serviços de internet da empresa que estavam vendendo e que negaram que os recursos da privatização seriam utilizados para enriquecer os acionistas da empresa.

Pouco mais de um ano e meio de privatização (consolidada na Bolsa de Valores em 9 de novembro de 2020), o conto do vigário se consolida. O Paraná, além de ter transferido valores da venda para os acionistas, já gastou R$ 165 milhões contratando serviços da antiga – e ainda sem mudar o nome – Copel Telecom.

O tema foi resgatado na Assembleia Legislativa, quando deputados questionaram porque o Governo do Paraná está contratando serviços de uma empresa que pertencia a ele. Este foi o posicionamento do deputado estadual Tadeu Veneri (PT). “Venderam a Copel Telecom e agora contratam a Copel Telecom. Qual é a lógica? Você tem uma empresa superavitária, uma empresa que tem a maior rede de fibra do brasil, que está entre as melhores do mundo na sua especialidade. Mas diz que não serve mais, vende e daí contrata a mesma empresa que foi vendida”, indagou.

Governador Carlos Massa Ratinho Junior, assina com Eduardo Pimentel a renovação de convênio entre a Copel e a Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (Aerp) Foto Gilson Abreu/ANPr

ALERTAS FORAM IGNORADOS POR GOVERNO

A queixa de Veneri havia sido feita pelo deputado Requião Filho (MDB) em 29 de julho do ano passado. Lembram da primeira frase deste texto? “Você venderia sua galinha dos ovos de ouro e passaria a comprar os ovos dela? Você venderia sua fábrica para, no dia seguinte, começar a comprar sua própria produção?” Pois é, ela foi feita quando o governo estadual celebrou seu primeiro contrato com sua ex-empresa. Requião ainda disse: “ainda não se pode deixar de dizer que os compradores da Copel Telecom seguirão pagando pela aquisição da empresa por um longo período, enquanto isso, o Estado pagará à vista os serviços por ela prestados. Ou seja, o próprio Paraná arcará com parte da compra da sua ex-empresa”, esclareceu.

O comentário foi sobre uma publicação no Diário Oficial em que o Governo do Paraná estava contratando serviços emergências para operação de dados e rede corporativa do Estado por R$ 22 milhões. O contrato emergencial ainda descreve que o serviço a ser prestado atende a escritórios regionais das secretarias do Paraná e demais órgãos distribuídos pelos municípios paranaenses.

Manifesto contra a privatização da Copel Telecom

PRIVATIZOU PARA DAR AOS ACIONISTAS

Agora vamos para outra frase: “Parte dos recursos obtidos escoará pelo ralo dos dividendos aos acionistas, buraco que tem recepcionado os lucros que a estatal obteve nos últimos ano”. Ela foi dita pelo Fórum em Defesa da Copel Telecom em novembro de 2020, quando o Governo do Estado celebrou a privatização. Na ocasião, os especialistas ainda previram “a redução constante do quadro de pessoal. Em poucos anos a COPEL será tão pequena que a população sequer perceberá que seu maior patrimônio se esvaiu”.

O que de fato vem acontecendo. A Copel tem enxugado seus quadros com programas de demissão voluntária que geram economia e, consequentemente, excedente de caixa para ser transferido para o bolso dos acionistas privados.

“Sempre afirmei que a venda da Copel Telecom era desnecessária e o dinheiro iria para os bolsos dos grandes investidores. Está aí, posto e assinado na ata da empresa que os dividendos bilionários pagos dias atrás somente foram pagos graças aos recursos da venda da Copel Telecom”, disse o deputado estadual e líder do PROS, Soldado Fruet.

Tem razão, deputado. A política da Copel, em meio à crise de empregos no país, é enxugar a empresa, vender ativos lucrativos, enriquecendo poucos. E nem escondem essa interferência do mercado nos interesses dos paranaenses, como mostra uma de muitas conferências de resultados.

“Seguindo os parâmetros da Política, o cálculo dos Proventos Intercalares é composto por: (i) R$ 837 milhões calculados com base no lucro líquido do 1º semestre de 2021; e (ii) R$ 600 milhões como antecipação de parcela dos dividendos regulares em função do excesso atual de liquidez, principalmente pelo advindo dos recursos extraordinários recentes da alienação da Copel Telecom e do recebimento integral da CRC – Conta de Resultados a Compensar”, disse a Copel para justificar porque parte do dinheiro da privatização não seria reinvestido no “negócio Copel”.

O POVO PARANAENSE NÃO ESTÁ NO CONTROLE

Situações como estas em que a Copel vai contratar serviços de empresas que a pertenciam seguirão sendo rotineiras enquanto os responsáveis por dilapidar o patrimônio paranaense não forem responsabilizados. A Copel que – diferente da Petrobras – não possui concorrentes, nem custos de energia atrelados em dólar, seguirá com sua política pró-mercado e contra a população.

Mais uma vez, o alerta já havia sido feito pelo presidente do Senge-PR ao se opor à privatização e à destinação dos recursos. Para Leandro Grassmann, as conferências de resultados e informes aos acionistas são um prato cheio para demonstrar que a política da companhia é gerar mais lucro, mesmo que tenha que abrir mão de ativos rentáveis como a Copel Telecom.

“O passado nos mostra que a prioridade é lucros elevados e remuneração de acionistas. Preocupa-nos a possibilidade de dissolver os recursos da Telecom para a mesma finalidade e não investir na Copel em Geração, Transmissão e Distribuição como havia sido prometido pelo Governador e pelo Presidente Daniel”, comparou Grasmann ao comentar a queda dos investimentos.

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