Em artigo publicado na página de Opinião do jornal Gazeta do Povo desta quarta-feira, 23 de abril, o diretor do Senge-PR, engenheiro Valter Fanini, faz uma análise sobre a disputa de espaço entre o transporte coletivo e o individual na cidade de Curitiba.
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Táxis deveriam poder usar as canaletas para ônibus?
Para responder a essa questão, devemos entender as razões para a criação das canaletas e faixas exclusivas para o uso do transporte coletivo – razões que não são poucas. Uma pessoa que utiliza o transporte individual por automóvel, seja um veículo particular ou táxi, ocupa cerca de 50 vezes mais espaço viário que o usuário do ônibus nos horários de pico. Portanto, é de se esperar que alguém que utilize o transporte coletivo (e ocupa bem menos espaço de um bem público) tenha alguma compensação em relação aos demais.
Mas não se trata somente de um caráter compensatório. Se a modalidade de transporte coletivo por ônibus utiliza 50 vezes menos espaço viário para transportar o mesmo número de passageiros que o automóvel, criar canaletas e faixas exclusivas para ônibus é uma decisão racional do uso do sistema viário urbano, já que Curitiba não tem capacidade viária para que todos usem o carro como meio de transporte urbano.
Os usuários dos transportes coletivos oferecem um benefício não percebido aos usuários dos automóveis e táxis: possibilitar que estes continuem utilizando seus veículos particulares, pois, se todos os usuários de ônibus comprassem seus “carrinhos” ou andassem de táxi, abandonando o transporte coletivo, certamente todos ficariam absolutamente inertes na rede viária curitibana, que não tem e nunca terá capacidade para tal.
O sofrimento de uma pessoa parada em um congestionamento dentro de um automóvel não pode ser comparado ao de outra dentro de um ônibus – nas horas de pico, ela é obrigada a compartilhar o seu metro quadrado de espaço com outros cinco passageiros em pé.
As canaletas exclusivas para ônibus ocupam menos de 1% dos espaços viários da cidade de Curitiba. O restante (mais de 99%) tem uso compartilhado, podendo ser utilizado por todos os tipos de veículos, inclusive os táxis. Parece-nos muito mais sensato que os usuários dos automóveis e de táxis reivindiquem mais canaletas e faixas exclusivas para ônibus, antes que mais gente abandone o transporte coletivo e venha competir com eles nos espaços dos seus automóveis.
Devemos observar também que os ônibus, principalmente os biarticulados, têm condições operacionais bem diferentes dos táxis. São condições de aceleração, desaceleração, velocidade e espaço necessário à frenagem bastante diferenciadas, o que representa uma severa ampliação do risco de acidentes se operarem na mesma faixa de tráfego. Além disso, pela saturação do sistema de transporte, os biarticulados circulam praticamente em comboio nos horários de pico, não sobrando espaço na via nem mesmo para os veículos de emergência e viaturas dos Bombeiros e polícias Civil e Militar, autorizadas a compartilhar desse espaço quando em serviço.
É certo que devemos entender a motivação dos taxistas em buscar uma saída para os percalços enfrentados cotidianamente no caótico trânsito de Curitiba, mas a liberação do uso das canaletas exclusivas dos ônibus para outros profissionais definitivamente não é e nem será a solução. Tal privilégio poderá também ser reivindicado por outras categorias, como os transportadores de cargas urbanas. É um precedente perigoso que põe em risco a vida e sobrepõe o interesse individual ao coletivo.
Valter Fanini, engenheiro civil, é diretor do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR).