Com o auditório lotado de copelianos, os coletivos sindicais CSEC e CMEC se reuniram com a Copel na Delegacia Regional do Trabalho (DRT). Na pauta, o PDV fatiado da empresa. Esse foi o terceiro encontro com os prepostos, mais uma vez sem a presença da diretoria. Na reunião anterior, a Delegacia havia apresentado cinco propostas de conciliação (reveja aqui) e dado a missão de Copel e entidades apreciarem. Nesse encontro, a empresa não avançou nos pontos, levando ao encerramento da mediação pela DRT. Os sindicatos, por sua vez, anunciaram que vão entrar com ações judiciais coletivas.
Duas semanas após o segundo encontro, a Copel disse que os cinco pontos apresentados foram internalizados e trouxe sua versão da proposta. “A gente fez essa análise com a diretoria e estamos abertos a discutir os termos do atual acordo previsto no ACT. Dentro da proposta, a ideia é promover um ‘revalida’, permitindo a desistência de quem foi contemplado. Precisamos sistematizar isso”, disse o Superintendente de Gente e Gestão, Cássio Vargas Pinto.
Outra questão seria analisar novamente os parâmetros de estabilidade, tendo em vista a privatização da companhia. Isso aconteceria com a antecipação da negociação do Acordo Coletivo de Trabalho.
O terceiro ponto que a Copel admitiu seria priorizar, em uma próxima lista, aqueles que pediram adesão a esse PDV, mas não foram contemplados. Esse modelo não garante os benefícios do atual programa. Ao passar para o próximo PDV com condições muito diferentes da atual, a indenização cai, por exemplo, de 30 salários para 12 salários. Também deixa de existir o piso de R$150.000.
Proposta insuficiente e ação coletiva
Para os sindicatos, “a proposta da Copel não dá valor aos seus profissionais. A resposta nunca vem. A situação permanece a mesma. Entra reunião, sai reunião e a Copel insiste em não cumprir o que foi prometido. Desse jeito, não há outra alternativa a não ser o meio judicial diante da falta de avanços”.
As entidades reforçaram que deve ser dado o direito dos 2989 empregados de escolherem seu destino. A proposta inicial era de cronograma de desligamento ao longo dos anos. No entanto, só foram listados 1438 profissionais para desligamento em agosto de 2024. Já 1551 funcionários tiveram o pedido negado.
“É mentira que contemplar as pessoas vai quebrar a empresa, pois o pedido não é imediato. É uma desculpa esfarrapada. Quantos podem ser incluídos e quanto custaria? Quais contratos seriam afetados por essas demissões? Novamente, a Copel apresenta argumentos pela metade, não responde o que foi perguntado”, continuam os sindicatos.
DRT encerra mediação e recomenda ação coletiva
“Se a Copel é o que é hoje, é devido a competência de seus funcionários no estado inteiro”, disse a Superintendente Regina Perpétua Cruz, demonstrando preocupação com os funcionários que saem ou permanecem na empresa de energia. Para ela, a negociação está encerrada porque não tem proposta concreta da Copel. “Os trabalhadores levaram um golpe da empresa e não podemos continuar dessa forma. Agora os sindicatos e trabalhadores podem buscar outros caminhos”, dizem os negociadores.
Copel negou acesso à lista com ranking do PDV
Quanto à lista dos pedidos aceitos e rejeitados, a Copel não a trouxe novamente. Segundo a empresa, foi avaliada uma possibilidade mediante assinatura do termo de responsabilidade. Mas, o parecer do Departamento Jurídico é contrário à entrega da lista completa e diz que cada empregado teria que autorizar a divulgação do nome na lista.
“É mais fácil ligar pros representados e perguntar, um a um, se foi contemplado ou não. De novo, falta transparência da empresa”, relata um sindicalista.
O fato de não entregar as listas das adesões ao sindicato pode ocultar situações de desrespeito ao ACT, como exemplo, empregados que têm 2 ou mais contratos de trabalho. Estes tiveram somente o tempo de empresa do último contrato somado para efeitos de ranqueamento, quando deveriam ter o período integral computado. Alguns empregados não conseguiram estar entre os que tiveram a adesão efetivada e tem este direito se somado todo o tempo de emprego.
SENTIMENTO DOS COPELIANOS
A Delegacia Regional do Trabalho abriu a palavra para os copelianos presentes, que relataram a ansiedade com o momento.
“A gente recusou duas vezes a proposta em assembleia. No meio, foi garantido que todos que aderirem iam sair. Só depois, com três mil pessoas, a direção percebeu que a empresa ia quebrar? Lá atrás não pensaram em limitar a quantidade de adesões?”, diz um funcionário.
“Eu tenho quase 20 anos de empresa e nunca podia imaginar que eu não ia confiar na palavra da Copel. Os funcionários estão doentes. O ACT só foi aprovado por conta do PDV e com promessa dos gestores”.
“Os diretores que deram a garantia de saída no PDV estão saindo neste processo e de uma forma não transparente”.
“A empresa usou a base da Copel e o PDV para aprovar a privatização da companhia. Fizeram de tudo para a gente não se manifestar prometendo fundos e mundos. E os sonhos foram destruídos com um e-mail. A gente deu o sangue pela empresa”.
“A gente perde o sono e o sonho com o que foi feito”.
Perseguição e assédio
As entidades sindicais fizeram denúncia ao Ministério do Trabalho e Emprego de que a Copel tem adotado ações de perseguição àqueles empregados que se manifestam em contrário às ações da gestão.
“Recebemos relatos de empregados que são coagidos a não se pronunciar. Também há informações de empregados afastados e com processo administrativo aberto para investigar supostas irregularidades de ações. Interessante que esses processos são abertos justamente para os empregados mais ativos contra a injustiça do PDV”, comentam os representantes. As entidades sindicais permanecem atentas e não medirão esforços para garantir que não ocorram perseguições ou qualquer outra forma de assédio.