O maior evento em defesa da água do mundo acontece de 17 a 22 de março, em Brasília. O Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), organizado por movimentos sociais, entidades sindicais e ambientais, reúne brasileiros e brasileiras de todas as regiões do país. São ambientalistas, indígenas, povos e comunidades tradicionais, sindicalistas de diversas categorias, ambientalistas, comunicadores. O encontro começou no Campus da Universidade Nacional de Brasília, onde segue até este domingo (18), e continua de segunda a quinta-feira (22) no Parque da Cidade.
O Senge-PR integra o Comitê Estadual do Fama, formado no segunda semestre de 2017, está presente no encontro em Brasília representado pela engenheira civil Maria Cristina Graf, integrante da direção estadual do Sindicato. “Este evento tem a grande coerência de ter a participação das pessoas e comunidade que cuidam da preservação da água. Muitas dessas comunidades têm sido diretamente afetadas por grandes projetos econômicos, que geram degradação ambiental, contaminação da água”, aponta a engenheira.
Engenheira civil Maria Cristina Graf
Outros quatro integrantes do Comitê Estadual do Fama também já chegaram ao evento, e, na segunda-feira, uma caravana com cerca de 50 pessoas do Paraná chega ao Fórum.
Servidores públicos apontam unidade entre setores dos trabalhadores para defesa da água
A tarde deste sábado (17) foi repleta de atividades autogestionadas. Foram 180 atividades espalhadas pelo Campus da UnB. Como fortalecer as políticas ambientais para garantir a água como bem comum? Esta pergunta orientou o seminário autogestionado organizado pela Associação Nacional dos servidores Federais do meio Ambiente (Ascema), a Asibama-DF, Assemma, e outras associações estaduais vinculadas à entidade nacional. O debate teve como ênfase o papel dos servidores da área ambiental em defesa da água como bem comum.
Foram apresentadas as situações de conflito entre a defesa do meio ambiente e da água na Serra da Gandarela, em Minas Gerais, e da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. As palestras foram realizadas por Paulo Rodrigo e Maria Tereza Corujo, integrantes do Movimento de Preservação da Serra da Gandarela, e por Breno Herrera, servidor do Instituto Chico Mendes (ICMBIO).
Nas duas situações, interesses econômicos de exploração de recursos naturais pressionam ameaçam a preservação ambiental. No caso do Rio de Janeiro, Herrera apresentou descreveu a queda de braço entre setores pró e contra o avanço da exploração e degradação da região da Baía de Guanabara pela indústria petroleira.
Na queda de braço que envolvia a estatal Petrobras, empresas privadas nacional e transnacionais, governos, pescadores artesanais, trabalhadores e ambientalistas, a divisão ficou bem definida, conforme avalia Herrera: “É uma divisão de classes sociais. Trabalhadores de modo geral eram contrários. Gestores, empresas, direção da estatal, a favor. Essa leitura de classe falta muitas vezes para nós ambientalistas.
Na leitura de Herrera, a mobilização das diferentes categorias de trabalhadores é que foram decisivas: “De nada valeria um calhamaço de pareceres técnicos. O movimento popular forte é que mudou a balança”.
Escarpa Devoniana
O engenheiro agrônomo Paulo Roberto Castella, servidor da Secretaria de Meio Ambiente do Paraná e integrante do Comitê do Fama Paraná, apresentou a mobilização contra a redução da Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana. O projeto de lei (nº 527/16) tramita na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) para reduzir em quase 70% APA.
Rosana Castella e Paulo Roberto Castella, integrantes do Comitê paranaense do FAMA
A formação geológica denominada Escarpa atravessa nada menos do que 12 municípios, do Sul ao Norte Pioneiro do estado. “É uma área produtora de água, extremamente importante para o estado”.
Caso aprovado, o projeto abriria caminho para a redução da área preservada de 392 mil para 126 mil hectares, ou seja, cerca de dois terços do total. Fica explícita a influência das forças políticas e econômicas do agronegócio. A exploração mineral, de energia eólica e hidráulica também estão entre os interesses que permeiam a tentativa de extinguir dois terços da Escarpa.
A mobilização contra o PL reúne inúmeros setores do estado conquistou o adiamento da votação do projeto. Para o engenheiro, assim como a experiência do Rio de Janeiro, a mobilização conjunta foi decisiva: “Essas articulações com a sociedade têm que ser muito forte, e a resistência a este projeto é um exemplo disso. Nós temos que nos articular com toda a sociedade”.
Regina Cruz, presidente da CUT-PR, também integrante do Comitê paranaense do FAMA