Crise energética, risco de apagão e contratação de termelétricas. Uma hora a conta ia chegar. E chegou. A ANEEL aprovou socorro financeiro de R$ 10,5 bilhões para o setor elétrico dividido em duas parcelas. O empréstimo autorizado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) deverá ser incorporado nas tarifas a partir de 2023. A possibilidade de aumento foi discutida pelo Senge Inovação em 2021 e durante uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Paraná. Para os especialistas, o modelo escolhido para enfrentar a crise revelava falta de estratégia e que o problema estava sendo empurrado há prazo para frente.
No Senge Inovação, o presidente do Senge-PR, Leandro Grassmann, conversou com Ronaldo Goulart Bicalho, pesquisador e Professor de Economia UFRJ, e Nelton Friedrich, ex-deputado federal constituinte, ex-Diretor da Copel e da Itaipu Binacional, debateram como o Governo Bolsonaro estava direcionando a produção de energia não renovável, em especial, focando em carvão.
Para Bicalho, o governo tem fugido do racionamento apostando em energias não renováveis cuja fatura já chegou e continuará chegando aos lares e empresas brasileiras. “O racionamento, a gente já contratou. A questão é quando ele vai ser acionado. Tem gente dizendo que as térmicas vão custar R$ 25 bilhões. Ano passado estava em R$ 8 bilhões. E se essa conta não for paga agora, será paga em 2022. Estamos comprando energia a prazo”, previu.
Já a audiência pública ocorrida em 25 de outubro do ano passado discutiu “A privatização da Eletrobrás, a crise hídrica e o risco de apagão no Paraná e no Brasil”. O encontro foi promovido pelos deputados Goura Nataraj e Requião Filho com apoio do Senge-PR e do Fórum em Defesa da Copel. Na ocasião, os especialistas comentaram que o Brasil vivia uma não-agenda no setor elétrico.
Para Clarice Campelo de Melo Ferraz, que é economista, professora da Escola de Química da UFRJ, a crise energética era efeito de diversos fatores. Entre eles, os ambientais. A especialista argumentou que o objetivo do governo é a ampliação do mercado livre e privatização da Eletrobras antes que seja definido o novo marco regulatório. “Não é um problema de natureza regulatória”, critica. Segundo Clarice, o caminho é investir em renováveis variáveis e a segurança depende da flexibilidade do sistema. Clarice ainda mostrou o sistema energético nos EUA e mostrou que os efeitos dos “negacionistas” podem atingir o Brasil.
Privatizar Eletrobras vai encarecer mais a tarifa
A engenharia florestal pela Universidade de Brasília e que atua na Eletrobras, Fabiola Latino Antezana, avaliou que não se trata apenas de uma crise hídrica, mas sim de uma crise energética. A especialista ainda explica porque a Eletrobras pública poderia ajudar no processo, tal qual foi em 2001.
“Para privatizar tudo, tudo mesmo, até aumentar nossa emissão de térmicas em 35%, o que vai na mão de tudo que acontece no mundo, o governo atendeu muitos interesses estaduais para conseguir votos. Mas a privatização da Eletrobras ainda não aconteceu”, alerta.