O Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR) reconhece o direito legítimo de greve dos motoristas e cobradores de ônibus da Rede Integrada de Transporte de Curitiba, mas alerta que o contrato de concessão transfere aos cidadãos a responsabilidade por arcar com os ganhos salariais desses trabalhadores, fazendo com que os empresários não cumpram a parte que lhes cabe. Isto se dá, porque os reajustes salariais têm impacto direto ao valor da passagem de ônibus, a partir de um artifício incluído no contrato assinado pela Urbs com as empresas de transporte que venceram a licitação.
“Nosso sindicato participa anualmente de dezenas de negociações e em nenhuma delas um valor repassado direta ou indiretamente aos trabalhadores é convertido automaticamente em aumento de taxas ou tarifas. Essa relação espúria deixa as empresas numa situação muito cômoda. É uma situação em que os empresários praticam o capitalismo risco zero, não precisam nem sequer negociar a tarifa. O resultado é que o trabalhador do transporte é transformado em vilão para a população”, afirma o presidente do Senge-PR, Ulisses Kaniak.
“A greve é uma forma legítima de os trabalhadores buscarem a garantia dos seus direitos. Porém, a negociação salarial deve ser tratada entre os trabalhadores e os empresários, sem que onere os usuários. O contrato que a Urbs assinou corrompe esta situação quando faz com que o custo de um trabalhador seja repassado a outro trabalhador e não ao empresário”, completou o diretor do Senge-PR, Valter Fanini, que representou o Senge-PR na Comissão de Auditoria do Transporte de Curitiba.
Essa distorção no contrato de concessão do transporte foi apontada pelo Senge-PR na comissão de discussão da tarifa, bem como destacada na CPI do Transporte e em todos os documentos que apontam sinais de irregularidades no processo licitatório apresentados à Prefeitura, Ministério Público, TCE, CADE e demais instâncias de controle.