O cenário de pandemia e a alta da inflação tem produzido efeitos negativos nas negociações salariais. Com inflação acumulada de 9,3% (Curitiba atinge 11,43%), os acordos coletivos abaixo do INPC triplicaram. Em oposição, a quantidade de negociações que tiveram ganho real achataram nos últimos 15 meses. É o que mostra o “Boletim De Olho nas Negociações”, do DIEESE.
Segundo o levantamento, cerca de 25% dos reajustes da data-base de julho ficaram acima da variação da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (INPC-IBGE). Reajustes em valores equivalentes a esse índice foram observados em cerca de 16% dos casos; e abaixo, em quase 59%.
Em uma piora considerada em relação ao mesmo período do ano passado. Em julho de 2020, 38,7% dos acordos tiveram ganho real, 30,3% repuseram a inflação do período e 31% dos acordos tiveram perdas. Se neste ano o INPC ficou em 1,02%, no ano passado foi de 0,44%. Naquela época, a inflação acumulada estava em 2,69%.
Janeiro de 2021 foi o mês que se registrou mais perdas em negociações coletivas. 60,6% dos reajustes esteve abaixo do INPC e apenas 10,2% tiveram algum ganho real. A inflação acumulada nos últimos 12 meses foi de 5,53%.
Na avaliação do DIEESE, no acumulado de 2021, cerca de metade dos resultados analisados fi cou abaixo da variação anual da inflação nas datas-bases. Reajustes iguais à inflação totalizam cerca de 1/3 do painel analisado; e correções acima do índice inflacionário representam cerca de 18%.
“A piora das negociações tem relação principalmente com o aumento da inflação, que chegará no piso agora em agosto (acima de 10%), e a não retomada do crescimento econômico conforme, em virtude da pandemia”, avalia o economista do DIEESE Paraná, Sandro Silva.
Negociação por setor
Bastante requisitado na pandemia, o setor da saúde privada foi o que pior negociou com os trabalhadores. Dos 271 acordos fechados para julho de 2021, 78,2% sequer repuseram a inflação do período. Rurais (67%), Comunicação (58,9%), Extrativista (57,4%), Químicos e Farmacêuticos (51,9%) e Urbanitários (50%) registram as piores negociações com reajustes abaixo do INPC, de acordo com dados do Ministério da Economia.
“A inflação de julho, segundo o INPC-IBGE, atingiu a marca de 0,96%, a maior para o mês desde 2002. O resultado manteve a trajetória de elevação do valor do reajuste necessário nas datas-bases. De acordo com o cálculo, as negociações com data-base em agosto precisam definir reajustes de 9,85% para conseguir recompor o poder de compra dos salários”, estabelece como meta o DIEESE.