O país sofre uma carência muito grande de investimentos em inovação tecnológico e produção de capital científico que promovam o desenvolvimento social. A capacidade de uma nação em ser soberana está estritamente ligada às suas opções em termos de defesa da sua engenharia e de fomentar a criação de conhecimento, é o que defendeu o superintendente de engenharia da Itaipu Binacional, Jorge Habib Hanna El Khouri, em palestra para cerca de 400 estudantes de engenharia nesta terça-feira (28), no segundo dia da Semana do Jovem Engenheiro, promovida pelo Senge-PR e Senge Jovem em Foz do Iguaçu.
De acordo com Habib, não há inovação sem o reconhecimento da importância do engenheiro para a sociedade. Não à toa, praticamente todos os indicadores utilizados para mensurar a capacidade de desenvolvimento tecnológico nacional inclui o número de engenheiros formados ou em formação como critério fundamental para análises. No entanto, o uso desse contingente e a competência em produzir e ser modelo de conhecimento tecnológico em termos de engenharia é antes uma opção nacional que individual.
“Os níveis de conhecimento passa por estágios que vão desde a operação da tecnologia até a produção de inovação e ciência, e é uma opção de país decidir o que ele quer em termos de conhecimento, se ele quer apenas operar a tecnologia, ou quer ter capacidade de manutenção da tecnologia ou produzir novos conceitos tecnológicos. Um exemplo de opção de país em nível de conhecimento é o do Brasil com relação ao setor automobilístico nos anos 1950, em que escolheu apenas montagem e operação da tecnologia, ao contrário da Coreia, que nos 1970 optou por percorrer todo o trecho do conhecimento e produzir e exportar inovações para o setor”.
Se o país se encontra, salvo exceções, em um vácuo em termos de inovação, de acordo com Habib, isso se deve a essa falta de o país se posicionar enquanto uma nação produtora de conhecimento e ao domínio de setores estratégicos tecnológicos por empresas multinacionais, que mantém em seus países sedes o núcleo de criação e inovação.
“A maioria dos setores produtivos são dominados por empresas multinacionais em que as áreas de inovação, de pesquisa e desenvolvimento estão localizados nas sedes, em outros países. O que temos é a importação desse conhecimento tecnológico em detrimento ao fomento da engenharia nacional. Ficamos com os estágios menores naquela escala de níveis de conhecimento”.
De acordo com o engenheiro, para reverter esse quadro é preciso fomentar a capacidade de criação dos engenheiros, além de formar mais profissionais e propor projetos que incentivem a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e desenvolvam a capacidade criativa da engenharia jovem. Como exemplo, Habib apontou as ações do Parque Tecnológico da Itaipu, que propõe um ambiente de incubação e inovação tecnológica junto às instituições de ensino, como a Unioeste e a Unila, cujos campus de engenharia são instalados dentro do espaço da empresa.
“É preciso criar ambientes que busquem conectar a universidade a espaços de inovação de empresarial, para aumentar a competitividade da engenharia no mercado internacional, para que tenhamos também o conhecimento tecnológico como algo desejável lá fora”.
Se é preciso para o desenvolvimento do País o incentivo à inovação e formação de um capital intelectual tecnológico brasileiro, defender o uso racional e a detenção nacional dos recursos naturais fundamentais ao bem-estar social e a manutenção de setores estratégicos sob administração do governo e do povo é extremamente importante para a soberania nacional, alertou o presidente do Senge-PR e, palestra sobre a atuação do sindicatos nas lutas em defesa da sociedade e do patrimônio público.
“Temos setores extremamente estratégicos na engenharia para a soberania nacional, como a energética, tanto com o setor elétrico, com empresas como a Copel e Itaipu, quanto com o petrolífero, com a Petrobras. São setores fundamentais para o crescimento do país, responsáveis por uma parcela significativa do mercado de trabalho da área de engenharia e e grandes investidores de capital intelectual tecnológico brasileiro. Só para se ter uma ideia, os engenheiros da Petrobras desenvolveram tecnologias de exploração em águas profundas cuja engenharia envolvida no processo é invejada por vários países. E é um conhecimento que é nacional e extremamente importante para a defesa da soberania”.
Pela história de participação das empresas estatais no desenvolvimento nacional como principais investidoras e sustentadoras do crescimento econômico do país, Bittencourt alerta para a necessidade de defender a manutenção dessas instituições como patrimônio público e de ficarmos atentos às estratégias do capital privado sobretudo estrangeiro cujo interesse é se apropriar dessas empresas e da tecnologia construídas com investimento do povo brasileiro.
“Como uma entidade comprometida com a soberania nacional e com a defesa da engenharia e do capital tecnológico do país, o Senge, juntamente com a Fisenge, mantém posição firme quanto a defesa da manutenção dos setores estratégicos da sociedade nas mãos da sociedade. Temos um histórico de ações que demonstram isso, como em 2001, quando nos posicionamos contra a tentativa de privatização da Copel, e atuamos na liderança de um movimento em defesa de um dos principais patrimônios públicos do Paraná, que contou com a participação de mais de 400 entidades sindicais e movimentos sociais do estado”.
A preocupação com o futuro dos recursos hídricos, a defesa da água e energia enquanto bens precípuos à dignidade humana e não como mercadorias, a soberania alimentar e a defesa do uso social da terra, de acordo com Bittecourt, integra uma série de bandeiras de ação do Senge-PR, manifestadas em atos públicos, ações de pressão nas esferas políticas nacionais e estaduais, campanhas informativas e de mobilização da sociedade, além de um intenso trabalho de conscientização e manifestando a opinião das entidade ante a sociedade e aos profissionais de engenharia, com publicações como a Revista Diferencial e a Revista da Fisenge.
Neste terceiro dia (29) da maratona de palestras e debates da Semana do Jovem Engenheiros serão realizadas mesas temáticas de engenharia elétrica, civil e mecânica. Confira a programação do evento, que encerra as atividades na próxima quinta-feira (30) em www.jovemengenheiro.com