PEC 55: a medida do retrocesso do Brasil

Senge Paraná
19.NOV.2016

Abrir mercados ao setor privado nas áreas públicas da Saúde, Educação e Previdência. Este seria o motivo do empenho do governo federal em fazer passar no Senado a Proposta de Emenda Constitucional 55 (já aprovada na Câmara Federal como PEC 241) e que tem como dispositivos a redução dos atuais recursos mínimos constitucionais garantidos à saúde e à educação.
Maquiada sob o título de “Novo Ajuste Fiscal”, a iniciativa do atual governo segue na contramão do que é aplicado em todo o mundo e põe em xeque o desenvolvimento nacional ao estabelecer o congelamento de gastos públicos primários por 20 anos.

A avaliação é do professor de Economia e coordenador do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas da UFPR, Fabiano Abranches Silva Dalto feita na palestra “Consequências Econômicas do Ajuste Fiscal ou Por que a PEC 55 é um retrocesso?” apresentada à diretoria do Senge na reunião do Conselho Deliberativo e Assembleia Geral Ordinária do sindicato, no sábado 19 de novembro, em Curitiba.
“Não existe crescimento econômico sem investimento público. Qualquer estudo que envolva educação e saúde mostra que essas áreas têm efeito direto sobre a melhor distribuição de renda, a produtividade da economia e o crescimento econômico. Sob qualquer ponto de vista, retirar dinheiro da educação e da saúde indica o não crescimento do País a longo prazo, o que é extremamente perigoso”, afirmou Dalto.
Na opinião do professor, a PEC é embasada em um erro de análise. “Ela só veio como Emenda Constitucional para retirar os mínimos da educação e saúde, porque tudo o que se diz no texto da proposta, fora esta parte, poderia ser feito por lei orçamentária sem a necessidade de mexer na Constituição”, observou.

O economista e professor da UFPR, Fabiano Dalto, durante palestra à diretoria do Senge sobre os efeitos da PEC 55.

Pelas regras atuais, a Constituição Federal determina que a União invista, no mínimo, 18% da arrecadação com impostos para educação. No caso da saúde, o mínimo que deve ser aplicado equivale a 13,2% da Receita Corrente Líquida em 2016. Isso permaneceria, segundo a PEC, apenas para o exercício de 2017. Uma vez a proposta aprovada, a partir de 2018 os recursos mínimos aplicados em saúde e educação vão ser os mesmos do ano anterior corrigidos pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com isso, em 10 anos, o investimento na saúde e educação poderão cair para 2% do PIB, na avaliação do economista.

Segundo Fabiano Dalto, na área da saúde o Brasil gasta, em média, US$ 600 per capita por ano. Na Europa, este gasto corresponde a US$ 3 mil per capita/ano, como na Inglaterra, que tem o sistema público de saúde universalizado que inspirou o SUS. Já nos Estados Unidos o gasto anual com saúde é de US$ 9 mil per capita num sistema privado que visa ao lucro a quem o controla. “O SUS é uma conquista para a Nação e teria que ter mais investimento. O sistema ainda está longe do que a gente quer, tem que ter mais investimento e não corte de recursos”, defendeu.

A medida proposta pelo governo terá impacto negativo também na redução da qualidade do ensino e na perda de investimentos de base em ciência e tecnologia. O economista diz que o que a PEC sugere é a redução da qualificação, particularmente na área tecnológica. São áreas que dependem de investimentos mais altos na formação e a ausência de recursos vai impactar na perda de bolsas de permanência, de iniciação científica, entre outras, e na perda de mão de obra qualificada. Para Dalto, o governo deixará o resultado na mão do acaso em vez de ter uma política de desenvolvimento. “A Petrobras, por exemplo, nossa empresa mais avançada em tecnologia e que tem potencial de espraiar conhecimento para outras áreas, está congelada. A proposta da concessão da exploração do Pré-sal para empresas de fora vai impedir o empuxo de desenvolvimento tecnológico para dentro. Vão fazer projetos em Londres, por exemplo, e mandar para cá. Os serviços de engenharia, promotores do avanço tecnológico, estão mortos no projeto deste governo”, avaliou.

Professor Fabiano Dalto disse que os cortes propostos na PEC 55 vão impedir o crescimento do País.
Professor Fabiano Dalto disse que os cortes propostos na PEC 55 vão impedir o crescimento do País.

Na palestra feita aos engenheiros que compõem a diretoria do Senge, o professor Fabiano Abranches Silva Dalto foi incisivo na defesa de investimentos públicos. “Eles seriam o único caminho para redesenhar um projeto nacional de desenvolvimento. O período em que se deixa de fazer investimento público é o período em que a gente não cresce”.

O presidente do Senge-PR, engenheiro agrônomo Carlos Roberto Bittencourt, abriu a reunião do Conselho Deliberativo e AGO, realizada no sábado, dia 19.
O presidente do Senge-PR, engenheiro agrônomo Carlos Roberto Bittencourt, abriu a reunião do Conselho Deliberativo e AGO, realizada no sábado, dia 19.

A reunião do Conselho Deliberativo e Assembleia Geral Ordinária do Senge foi aberta pelo presidente do sindicato, engenheiro agrônomo, Carlos Roberto Bittencourt. Participaram os representantes das diretorias colegiada e das oito regionais do Sindicato. Na oportunidade foi debatida uma extensa agenda de avaliação das atividades realizadas em 2016 e dos projetos para o próximo ano.

Representantes das diretorias colegiada e das oito regionais do Sindicato participaram da reunião na sede do Senge.
Representantes das diretorias colegiada e das oito regionais do Sindicato participaram da reunião na sede do Senge.
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