Por Manoel Ramires/Senge-PR
O Paraná não é apenas o segundo maior produtor de grãos do país como também está no pódio nacional quando o assunto é consumo de agrotóxicos. Neste ano, o estado projeta produzir 37,1 milhões de toneladas de grãos. Dessa quantidade, quase a metade, 16,2 milhões de toneladas para 5,437 milhões de hectares plantados, ficam apenas para a soja, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Paraná.
Tanta soja e grãos também colocam o estado em segundo lugar no consumo de agrotóxicos do país, atrás apenas de Mato Grosso do Sul e com São Paulo na cola. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), em 2015, 52% da venda de agrotóxicos no país era destinado para utilização na soja. Cana e milho receberam 10% cada de “defensivos” e 7% ficaram com o algodão.
Por outro lado, dados recentes da Emater e a Embrapa Soja calculam que houve redução de agroquímicos de até 50% em alguns casos. “Nas últimas três safras a redução no uso de fungicidas foi de 35%”, aponta nota do governo do estado.
De acordo com o Ministério da Agricultura, o país consumiu 539,9 milhões de toneladas de agrotóxicos em 2017 enquanto que a liberação de produtos saltou de 277 em 2016 para 405 no ano seguinte. Em 2019, no governo de Jair Bolsonaro (PSL) já foram liberados 290 novos produtos. Esses números colocam o Brasil como líder mundial no consumo de agrotóxicos. 16% de tudo que é consumido fica no país, contra 32% de toda a Europa e 23% na Ásia.
O ranking dos 10 ingredientes ativos mais vendidos no país é liderado pelo glifosato, que é utilizado na soja, segundo dados do IBAMA de 2014. Desses produtos, nada mais do que sete são proibidos de serem comercializados na Europa, Canadá e Austrália.
Contaminação
A utilização de tantas toxinas acaba por contaminar os alimentos consumidos pela população. Um estudo do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos ( PARA – da Secretaria de Saúde do Paraná) mostra que a ingestão de alimentos contaminados chega a 19% no Paraná. “Toda ingestão que for acima de 5% é um terror. Nos EUA, no Canadá, a média é de 5%”, alerta Marcos Andersen, engenheiro agrônomo.
Dos produtos analisados em 2017, o morango registrou 72,2% de contaminação, pimentão bateu 56,52% e o tomate 25%. Não são apenas os alimentos que estão contaminados. Agrotóxicos foram detectados na água que abastece mais de 2.300 cidades de 2014 a 2017, segundo estudo publicado no Portal do Alimento.
Em Curitiba, 27 agrotóxicos foram identificados na água que abastece a capital. Desses, 11 são associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Já Cascavel, que lidera o ranking da produção de soja no estado, também teve os mesmos números de Curitiba. Dos 27 agrotóxicos, 16 detectados estão acima do limite considerado seguro na União Europeia entre 2014 e 2017.
Jornada de Agroecologia
Na semana que vem (28) começa a 18a Jornada de Agroecologia. O evento ocorre até o dia 1o de setembro com a programação ocorrendo em três locais: Praça Santos Andrade, Pátio da UFPR e Teatro da Reitoria. O evento conta com 80 expositores com produção voltada a produtos da Reforma Agrária, Agricultura Familiar e Economia Solidária.
No dia 29, às 15h00, será realizada uma aula pública com o tema “O envenenamento do povo brasileiro” e o lançamento do “Relatório Agrotóxicos Altamente Tóxicos”. O evento é gratuito e ocorre no palco da Santos Andrade.
No dia seguinte, às 16h00, ocorre a oficina “Onde e como denunciar contaminações e intoxicações por agrotóxicos”. Já no dia 31 de agosto, às 14h00, o evento na “Tenda Agrotóxico Mata” apresenta a “Cartografia Social dos Agrotóxicos no Paraná e a Contaminação das Águas no Paraná”.