Para economista, mudança no perfil do mercado de trabalho reduziu impacto da crise

Senge Paraná
27.ABR.2015

A mudança no perfil do mercado de trabalho no País, com a diminuição da participação de jovens entre 15 e 19 anos na vida econômica ativa tem ajudado a manter a redução da taxa de desemprego, mesmo com a redução do ritmo de crescimento afetado pela crise a partir de 2008. Essa é a análise do economista e professor da Unicamp, Paulo Baltar, destacada em palestra sobre mercado de trabalho, realizada na última sexta-feira (24), no Senge-PR.

interna2
Palestra do professor da Unicamp, economista Paulo Baltar, lotou o auditório do Senge-PR.

De acordo com o economista, a crise mundial causou um impacto significativo nas exportações e na produção manufatureira brasileira, afetadas principalmente pela entrada da China na disputa pelo mercado latino americano. “Tivemos uma desaceleração do consumo, com queda dos investimentos e das exportações, que não se recuperaram até agora. Temos uma demanda de manufaturados que não cresce nunca e uma competição internacional muito maior, porque a crise paralisou os países desenvolvidos que compravam muitos manufaturados da Ásia, principalmente da China, que, não tendo como exportar para os mercados desenvolvidos, procuraram mercados onde ainda tinham como crescer, e não só no Brasil, mas nos compradores de produtos manufaturados brasileiros”.

Baltar: "Se não fosse a alteração do perfil do mercado de trabalho, teríamos um desemprego da ordem de mais de 10%."
Baltar: “Se não fosse a alteração do perfil do mercado de trabalho, teríamos um desemprego da ordem de mais de 10%.” Foto: Alexsandro T. Ribeiro

Por outro lado, mesmo com a crise afetando a taxa de crescimento do Brasil pela metade, que entre 2003 e 2008 teve crescimento médio de 4,8% ao ano, apresentando em 2008 uma produção 26,8% maior que em 2003, a taxa de desemprego vem apresentando ano a ano uma diminuição constante, devido a uma redução na participação da atividade econômica, principalmente de jovens entre 15 e 19 anos.

“A maneira como a crise mundial afetou a economia brasileira e sua repercussão no mercado de trabalho foram muito marcadas à maneira como foi afetada pela redução da taxa de participação, sendo responsável pela continuação da diminuição da taxa de desemprego. Se não fosse a alteração do perfil do mercado de trabalho, teríamos um desemprego da ordem de mais de 10%. Para se ver qual é a importância que foi da redução da taxa de participação na atividade econômica da população brasileira, e essa redução foi significativamente da população juvenil”.

De acordo com Baltar, a entrada tardia da população jovem no mercado é fruto do crescimento com inclusão social que o país teve ao longo dos anos de 2003 a 2008, com a criação de novos postos de trabalho, aumento do número de empregos formalizados, aumento do salário mínimo, políticas de distribuição de renda e melhora expressiva na renda das famílias brasileiras.

“Com isso as famílias puderam manter na escola os filhos e aumentou a população que frequenta o ensino fundamental e médio, embora tenha aumentado também um pouco a população que não tem trabalho nem atividade econômica. Na década de 1970 e começo de 1980 os jovens entre 15 a19 anos já estava nas principais atividades econômicas do país, representando uma participação de 75% da população masculina dos jovens. Isso não acontece desta forma agora. Atualmente, no Brasil, metade dos adolescentes procura trabalho”.

A palestra do economista Paulo Baltar integra o ciclo de debates Economia do Trabalho e Sindicalismo, promovido pelo Senge-PR, em parceria com o Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp e o Instituto Democracia Popular (IDP). As palestras serão realizadas mensalmente até novembro. O Ciclo já contou com participação do economista Marcio Pochmann e de José Dari Krein.

Confira os  demais temas a ser debatidos no ciclo e participe

Maio 

Dia 15 de maio (Sexta-feira), às 14 horas

Palestrante: Marcelo Proni

Palestra – Trabalho e a questão social no Brasil

Junho

Dia 19 de junho (Sexta-feira), às 14 horas

Palestrante: Marcelo Manzano

Palestra – As perspectivas da economia brasileira

Agosto

Dia 7 de agosto (Sexta-feira), às 14 horas

Palestrante: Hugo Rodrigues Dias

Palestra – Novos movimentos sociais e sindicalismo na experiência internacional

Outubro

Dia 2 de outubro (Sexta-feira), às 14 horas

Palestrante: Magda Biavaschi

Palestra – Regulação do trabalho e instituições públicas no Brasil

Novembro 

Dia 13 de novembro (Sexta-feira), às 14 horas

Palestrante: José Dari Krein

Palestra – Negociação coletiva, a efetividade da regulação do trabalho e o sindicalismo no Brasil

Voltar a Notícias