O Dia Internacional da Mulher, a pandemia e o alerta para a perda de direitos

Ativista do movimento feminista faz uma reflexão sobre a data celebrada em oito de março

Foto: Bianca Reis
Comunicação
03.MAR.2022

Por Tania Tait*

Mulheres mais qualificadas em anos de estudo, direito ao voto feminino, uma presidente da república, lei Maria da Penha, lei do Feminicídio, lei da violência psicológica, entre outras, fazem parte das muitas conquistas ao longo dos séculos XX e XXI.

Por outro lado, apenas 10% de presença feminina na política, aumento de feminicídios, mais desempregadas na pandemia, aumento da violência doméstica e de importunação sexual, aumento do estupro de meninas são alguns dos muitos pontos negativos que, também, fazem parte da vida das brasileiras. Não é por acaso que o país ocupa a posição de quinto lugar como mais perigoso do mundo para as mulheres viverem.

De forma contraditória, diante das conquistas, a perda de direitos tornou-se uma sombra na vida das mulheres protagonizada pela falta de políticas públicas, pela redução de orçamento federal no combate à violência, suspensão da implementação da Casa da Mulher Brasileira e ataques misóginos e discriminatórios direcionados à população feminina.

Com a pandemia, a situação das mulheres se agravou com as demissões, a necessidade de cuidar de crianças sem escolas e dos idosos doentes, a suspensão de suas atividades profissionais, entre inúmeros desafios trazidos pela Covid. Além disso, junte-se o fato das mulheres serem as mais expostas ao vírus pelo uso do transporte coletivo, pela atuação em profissões da linha de frente na área de saúde e por acompanharem os doentes das famílias.

Contudo, a pandemia apenas acelerou um processo que vinha se desenhando no país desde 2016 quando ocorreu o impeachment da presidente Dilma, o qual desencadeou uma onda conservadora marcada por um governo sucessório composto por homens brancos, ricos e supostamente heteros. Por esse processo, os ataques machistas, homofóbicos e racistas encontraram campo fértil para florescer, patrocinados por governos que estimulam a discriminação e usam o ódio como ferramenta de manipulação.

A boa notícia vem de alguns Estados e Municípios que possuem rede de atendimento às mulheres, com recursos, mesmo que parcos, para o combate à violência, com programas de qualificação, geração de emprego e renda e valorização da mulher. Embora sua existência não seja uma regra no cenário brasileiro, as redes de atendimento municipais estão empenhadas em salvar a vida das mulheres.

Além disso, o movimento feminista tem sido fortalecido com a inserção das mulheres na política e nos espaços de poder e a colocação das suas reivindicações para a sociedade de forma mais ampla. A realidade, entretanto, mostra que retrocessos se sucedem na área de diretos.

O alerta continua ligado, pois como bem frisou a filósofa e feminista Simone de Beauvoir “basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”.  Mais do que questionados, podemos afirmar que, também, numa crise sanitária como a que estamos vivendo, os direitos das mulheres são retirados.

A perda dos direitos impacta nas conquistas obtidas rumo à igualdade entre mulheres e homens, é como se tivéssemos que começar tudo de novo. Isso não podemos permitir! Retrocesso jamais!

* Tania Tait é professora aposentada da Universidade Estadual de Maringá (UEM), doutora em engenharia de produção com pós-doutorado em História das Mulheres, escritora, autora do livro “As Mulheres na Luta Política” e uma das fundadoras da ong Maria do Ingá – Direitos da Mulher e do Fórum Maringaense de Mulheres.

Artigo publicado originalmente em taniatait.com.br

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