O Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR) vem a público manifestar apoio e solidariedade à campanha Viva Sem Veneno, desenvolvida pelo Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT-PR), Observatório do Agrotóxico, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva (NESC), Associação Paranaense dos Expostos ao Amianto, e Fórum Nacional e Estadual de Combate aos Agrotóxicos. Por conquistar visibilidade e apoio amplo da sociedade, a campanha tem sofrido ataques por parte de alguns setores.
A campanha desenvolvida reforça informações que, em sua maioria, já são públicas e cientificamente comprovadas: agrotóxicos fazem mal à saúde humana e ao meio ambiente. O Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN), que registra os casos suspeitos e confirmados de intoxicações de agrotóxicos, mostra dados alarmantes: entre 2012 e 2017, o número de casos notificados nos serviços de saúde referentes a intoxicações por agrotóxicos no Paraná é de 4.190. Deste total, 73% foram causados por agrotóxico, segunda causa de intoxicações exógenas, ficando somente atrás dos medicamentos.
Até 2012, o Brasil ocupava a vergonhosa posição de maior consumidor de agrotóxicos do mundo, e segue entre os principais consumidores. O Paraná é o terceiro maior consumidor do Brasil. Estudos desenvolvidos pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e Ministério da Saúde (por meio da Fundação Oswaldo Cruz) mostram que o uso dos agrotóxicos pode causar doenças diversas, como problemas neurológicos, motores e mentais, distúrbios de comportamento, problemas na produção de hormônios sexuais, infertilidade, má formação fetal, aborto, doença de Parkinson, atrofia dos testículos, câncer de diversos tipos, entre outras.
Neste debate de extrema relevância para toda a sociedade e para a saúde pública, nossa preocupação é também a de valorizar a profissão e os profissionais engenheiros agrônomos. O uso dos agrotóxicos é autorizado mediante prescrição destes profissionais, que devem também fazer um diagnóstico correto e acompanhar o processo de utilização, orientar os agricultores quanto aos riscos e uso dos produtos e sobre os equipamentos de proteção necessário, os equipamentos de pulverização mais adequados e os cuidados no descarte das embalagens. O agrônomo é o profissional que pode orientar, planejar, desenvolver e aplicar tecnologias capazes de gerar produtos agropecuários sem poluir o ambiente e sem causar mal à saúde.
Os bons profissionais adotam estas condutas. No entanto, isto não significa que tenhamos produtos agropecuários produzidos sem resíduos de agrotóxicos e que não trazem problemas à saúde e ao meio ambiente. Para cessar completamente estes impactos, é necessário avançar na busca da produção de alimentos e produtos agropecuários mais limpos, com a diminuição de resíduos de agrotóxicos e consequente extinção do uso.
Um dos objetivos da campanha Viva Sem Veneno é justamente mostrar que existe uma outra tecnologia para produção agropecuária sem contaminantes químicos e ambientalmente sustentável. A intenção é também chamar atenção para o uso exagerado destes produtos no Paraná, principalmente em razão da pressão que as empresas fabricantes e comerciantes exercem sobre os profissionais para vendê-los.
A nossa sociedade clama por novas tecnologias com estas características e para isso haverá a necessidade de engenheiros agrônomos capacitados para esta nova realidade. Fazer a defesa dos agrotóxicos como única tecnologia para a produção de produtos agropecuários é estreitar a visão e a participação deste importante profissional no processo de avanço do nosso marco civilizatório. Precisamos de tecnologias economicamente viável e socialmente justas.
Por fim, enfatizamos o nosso apoio e solidariedade às entidades integrantes da campanha Viva Sem Veneno, uma iniciativa educativa e informativa, de grande interesse para toda a população paranaense.
_27 de março de 2018_
_Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR)_