“Por falta de uma pedagogia moderna e reveladora, a história do Paraná ficou relegada ao esquecimento por várias gerações”. A citação é do historiador Aimoré Índio do Brasil Arantes, e revela a preocupação de quem defende a necessidade de resgatar a história por “outras perspectivas”, que mostre a real participação popular e revolucionária, sobretudo no espaço paranaense, ao longo dos tempos.
A falta de preocupação com a história no território e do povo paranaense é reforçada pelo historiador ao afirmar que foi apenas em 2001, por meio de regulamentação estadual, que ficou instituído a obrigatoriedade no currículo escolar a história do Paraná. “E isso veio apenas por força de lei. Ou seja, temos que criar uma lei para obrigar a falar sobre a história paranaense”.
A crítica foi durante a palestra do historiador, na manhã deste sábado (24), ministrada aos diretores estaduais e das regionais do Senge na reunião do Conselho Deliberativo em Curitiba. Sob o título “Guerras, greves, conjuras, lutas, campanhas, levantes e rebeliões na terra dos pinheirais”, Aimoré Arantes abordou um panorama pontuando inúmeros momentos em que conflitos e contrastes marcaram a história paranaense ora em repressão às minorias, ora em busca de identidade.
Para o historiador, o fenômeno de construção da história e de um quadro de “falta de participação” política paranaense vem se consolidando há tempos, desde a ocupação do território paranaense, no século XVI, que segundo Aimoré Arantes “aconteceu diferentemente do que faz crer uma percepção superficial e ingênua da nossa história, sendo um processo de conquista e ocupação que transcorreram com conflitos e lutas sociais. O que ocorre é que persiste em nosso estado a ausência de conhecimento sobre a sua formação histórica”.
Uma parte dessa realidade, aponta o historiador, se dá pela força da estrutura acadêmica que privilegia determinadas linhas de pesquisa em detrimento a uma infinidade de outras perspectivas. Com isso, muitos documentos e informações ainda carecem de ser reveladas. “Por isso, é compreensível o senso comum de que o Paraná é um território livre de conflitos. Ao contrário do que é apregoado sobre a importância histórica do nosso estado no âmbito nacional, o Paraná integra as mesmas contendas pertinentes ao processo histórico que se inicia no século XVI em todo o continente americano”.
Para ilustrar, Aimoré Arantes resgatou as duas greves gerais nacionais no início do século passado, motivados por ideais anarcossindicalistas, e que repercutiram fortemente no Paraná, com adesão e manifestação que buscavam reivindicar pautas presentes até hoje no movimento dos trabalhadores, como redução de jornada de trabalho, melhores condições de trabalho e combate ao assédio sexual.
Nem precisa ir tão distante no tempo para verificar que a “história registrada” se consolida pelo enquadramento de um determinado grupo ou por meio do poder hegemônico, que pode se consolidar em várias formas. No processo de redemocratização, por exemplo, a capital paranaense foi o berço do movimento nacional conhecido com “Diretas Já!”. “O movimento começa em Curitiba. Escrevi até em um livro sobre história do Paraná eu reforço essa ideia, combatendo o que diz a mídia de fora do estado, que tenta incutir São Paulo como foco do movimento”.
Assista abaixo a palestra do historiador