O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou atrás da sua fala em que comparou o funcionalismo público brasileiro a “parasitas” do orçamento. O recuo aconteceu após pressão de políticos do governo e da oposição, além de entidades de classe. O pedido de desculpas, no entanto, não ameniza a gravidade da fala de um governo que a todo momento agride a imagem dos servidores públicos do Brasil, independente da esfera de governo.
“Me expressei mal e peço desculpas não só aos meus queridos familiares e amigos mas a todos os exemplares funcionários públicos a quem eu possa descuidadamente ter ofendido”, disse Guedes à Reuters nesta segunda-feira.
O ministro, por outro lado, devia dar nomes aos verdadeiros parasitas deste país e ao qual ele está a serviço, como bem destacou o deputado Ivan Valente. “O sujeito sempre foi banqueiro, símbolo maior dos que vivem da agiotagem legalizada que suga metade do orçamento da União e vem ofender quem trabalha”.
Aliás, o mercado financeiro vive em verdadeira simbiose com o orçamento público federal, sugando-lhes recursos sem se preocupar com os impactos em políticas públicas. No orçamento deste ano, por exemplo, o pagamento da dívida pública, que soma rolagem, juros, amortizações e despesas financeiras vai atingir R$ 1,92 trilhão em 2020. Mais da metade (53,3%) de R$ 3,6 bilhões destinadas para o ano, deixando 42% do orçamento para bancar atividades essenciais e investimentos público. O que demonstra que o mercado é verdadeiro sanguessuga de verbas que poderiam ir para escolas, hospitais, segurança pública, assistência social, aposentadoria e cultura.
Suando a camisa
O funcionalismo público, em sua grande maioria, não tem nada de parasita. Pelo contrário, a ele está sendo imposto diversas privações nos últimos anos. Os governantes estão congelando salários de servidores públicos municipais, estaduais e federais, também aumentaram sua alíquota de aposentadoria e ainda querem cortar 25% de seus salários se aprovarem a PEC 186/2019.
Em uma época em que o povo mais necessita do estado brasileiro, ele se torna cada vez menor em atender os anseios da população. Um exemplo disso é que o Brasil tem apenas 12% de sua população empregada como funcionário público, de acordo com levantamento da OCDE e Banco Mundial. A Noruega, Dinamarca e Suécia chegam a ter 30%, segundo esse estudo.
E boa parte deste funcionalismo está atendendo “na ponta”, como é utilizado no jargão de quem tem contato direto com a população. O estudo Três Décadas de Evolução do Funcionalismo Público no Brasil (1986-2017), revela que a expansão do número de vínculos no setor público se concentrou nos municípios. O total de vínculos municipais aumentou 276%, de 1,7 milhão para 6,5 milhões, entre 1986 e 2017 porque houve a municipalização dos serviços. O Atlas ainda teve o zelo que o ministro não teve:
“Há significativas disparidades nas remunerações entre os diferentes níveis e Poderes. Novamente, também as políticas remuneratórias devem considerar tais diferenças e, sobretudo, evitar tratar o funcionalismo em geral, sem especificar quais segmentos estão sendo considerados nas análises”.
Um novo período eleitoral está se aproximando no Brasil. A área da saúde é apontada espontaneamente por 19% como a mais problemática do país, seguida por educação (14%), segurança (13%) e desemprego (13%), segundo o DataFolha. O povo segue priorizando os serviços públicos de qualidade, querendo que os recursos de seus impostos seja investido em políticas públicas e não será chamando de parasita quem carrega o estado nas costas que o país vai retomar confiança e investimentos.