Qual é o valor da tarifa técnica na capital do Paraná? Especialistas não chegaram a um consenso sobre os custos do transporte e nem como é composto tanto o valor pago pelos passageiros quanto o montante necessário para subsidiar a passagem de ônibus. Nas palavras do engenheiro e especialista em mobilidade urbana, Roberto Ghidini, a “tarifa técnica da URBS é uma bula de remédio que ninguém entende”. Este foi o tema do Senge Play Inovação, na Rádio Cultura 930 AM, que discutiu ainda a qualidade do transporte, a falta de transparência nos reajustes e o seu atraso na capacidade de se conectar com outras modalidades de deslocamento. A conversa foi com o vereador Professor Euler (PSD), com o deputado Goura (PDT), com Roberto Ghidini e com a ativista Patrícia Valverde.
R$ 7,50. R$ 8,11. R$ 11. R$ 6,36. R$ 7,20. Escolha um valor e divulgue. Essa é a confusão em torno do valor da tarifa técnica de Curitiba. Ninguém realmente sabe o quanto ela custa e quais são os seus custos. O que se sabe, nas palavras do professor Euler, é que o lucro das empresas de transporte é de 11%, que o reajuste foi de 22%, R$ 5,50, que o valor contribui para a evasão do sistema e que a Prefeitura de Curitiba e o Governo do Paraná já bancaram mais de R$ 200 milhões para custear um sistema de transporte caro, ineficiente e cuja “tarifa não é ótima”.
Já o deputado estadual Goura Nataraj enfatizou o projeto de lei que está tramitando na Alep e dispõe sobre concessão de subsídios aos serviços de transporte público coletivo de passageiros no estado do Paraná. Para ele, é necessário criar uma norma para evitar discrepâncias como tem ocorrido em Curitiba. Goura, que defende um sistema público de transporte, não a concessão privada, também questionou o reajuste da tarifa no meio do feriado. Um PL dele, quando era vereador, estipulava o prazo de um mês para entrada em vigor de uma nova tarifa.
Embarcando sem destino
O aumento da passagem tem gerado protestos e cobranças por falta de transparência. O engenheiro e diretor do Senge-PR, Luiz Calhau, participou de um encontro com vereadores contrários ao reajuste e questionou porque a tarifa técnica foi reajustada 22 vezes desde 2019. Para ele, o prefeito Rafael Greca precisa explicar porque só agora decidiu aumentar o preço pago pelos usuários do transporte.
“Se a gente tem incertezas desde 2010 sobre o custo que a URBS considera no cálculo da tarifa, com a pandemia, a gente tem várias dúvidas com relação ao número de passageiros que deixou de usar o sistema. Como a Prefeitura não tem uma política de transparência objetiva sobre a evasão, não é possível exercer um controle social sobre esses parâmetros”, suspeita Calhau.
OUÇA CALHAU QUESTIONANDO O REAJUSTE
Transporte público e eficiente
O engenheiro Roberto Ghidini e a artista e proprietária da Bicicletaria Cultural, Patrícia Valverde, questionaram a qualidade do transporte oferecido aos usuários, seu caráter privado e a falta de conexão com outros meios de mobilidade. Patrícia ressalta a lotação dos ônibus, a falta de informação em relação a utilização do cartão transporte e a impossibilidade de embarcar com bicicletas em Curitiba.
“A gente fala, em Curitiba, de transporte coletivo e várias vezes falamos de transporte público. Na verdade, essa nomenclatura nos ajuda a situar qual é a condição que a gente tem quando entra no ônibus. O que percebemos, por outro lado, é que o deslocamento é oneroso para os cidadãos”, destaca Valverde, que relatou as dificuldades de mobilização na condição de ciclista e mulher, “eu precisaria, no mínimo, de um modelo de integração, entre ônibus, bicicleta, carro”.
Já Ghidini contestou o modelo de transporte de Curitiba em comparação com grandes centros urbanos. “Tudo depende da direção para onde queremos ir. Percebemos que o governo municipal tem essa visão voltada aos interesses dos empresários e não para os dos usuários do sistema, não só do transporte público remunerado, mas também relacionado ao fornecimento de infraestrutura para outros modais mais sustentáveis, como bicicleta e de pedestres”, avalia.
Segundo o especialista, em Madri, o sistema é composto por um grande consórcio formado por empresas privadas e públicas. “Os ônibus urbanos são todos públicos. É uma empresa municipal que transporta. São funcionários da prefeitura. Com isso, o custo tarifário é diferenciado”, comenta Ghidini.
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Nova licitação sem cartas marcadas
Alvo de inúmeras polêmicas, a concessão de transporte público em Curitiba deve começar a ser revista a partir de 2023. A previsão é de que uma nova concorrência ocorra em 2025, quando se encerra o atual contrato. As datas foram confirmadas pelo IPPUC em reunião no último dia 9 de dezembro de 2021 com a presença do Concitiba. Para os especialistas, é fundamental que este debate seja público.