Filme que mostra transformação de terra degradada em agrofloresta é lançado no Paraná

Senge Paraná
14.SET.2018

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(Foto: Julia Rohden)

Em meio à Mata Atlântica do litoral paranaense, uma área degrada pela produção extensiva de búfalos se transformou em uma experiência premiada por recuperar o meio ambiente com a produção agroflorestal. Em 30 minutos, o documentário “Agrofloresta é mais” conta esta metamorfose protagonizada por 24 famílias integrantes do acampamento José Lutzenberg, localizado no município de Antonina.

O filme foi lançado oficialmente nesta quinta-feira (13), em Curitiba, no Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT-PR) – um dos realizadores do documentário-, feito em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Associação Paranaense das Vítimas Expostas ao Amianto e aos Agrotóxicos (APREAA).

Atualmente, as famílias acampadas estão sob ameaça de despejo. O documentário integra a campanha “Agrofloresta é a nossa casa”, organizada por dezenas de entidades contrárias à retirada das famílias do território. O Senge-PR está entre as entidades que assinam a carta (confira na íntegra abaixo). Para Carlos Roberto Bittencourt, presidente do Senge, a comunidade é um exemplo da viabilidade da preservação e recuperação da Mata Atlântica por meio da agrofloresta. “O bioma da Mata Atlântica se reduz ano a ano com os altos índices de desmatamento, e o acampamento vai na contramão disso, sendo símbolo da recomposição da biodiversidade. Toda a sociedade ganha com isso”, garante.

Confira o filme na íntegra:

O professor da UFRJ e diretor do filme, Beto Novaes, enfatizou a necessidade de utilizar o documentário como instrumento de divulgação do projeto agroflorestal bem-sucedido. “Nós não podemos ficar falando para os mesmos parceiros, nós temos que abrir para o mundo”, enfatiza o diretor.

Para romper as fronteiras brasileiras, o material foi traduzido para o espanhol, o inglês e o francês, e está sendo distribuído para diversas organizações nacionais e internacionais.

Um grupo de trabalho nacional do Ministério Público sobre agrotóxicos acompanha a experiência da área como um exemplo a ser seguido: “Temos apoiado e incentivado a permanência das famílias naquele espaço por considerar uma iniciativa exitosa no que diz respeito à produção agroecológica, que é mais do que orgânica e principalmente, pela preservação da floresta”, relata Margaret Matos Carvalho, procuradora regional do trabalho, que acompanha de perto o desenvolvimento da área.

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(Foto: Luciana Santos)

A procuradora reforça a importância da permanência das famílias na área e da difusão das metodologias de trabalho e de produção utilizadas: “Hoje, quando a gente fala de futuro a ideia é sempre negativa. Mas nós temos esperança, e queremos que essas esperança se concretize através desses exemplos. Espero que as famílias que hoje ocupam aquele espaço, que elas permaneçam naquele lugar, porque preservar e trazer de volta uma floresta demanda muito tempo e eles já conseguiram isso, e ainda tem muita coisa precisa ser feita. Não podemos perder aquilo que já foi construído e queremos mais, porque agrofloresta é mais”, conclui.

Saint-Clair Honorato Santos, procurador de justiça do Ministério Público do Paraná, conheceu a área antes da ocupação pelas famílias Sem Terra. “Conhecida a área quando era uma fazenda de búfalos e ver hoje aquele local recuperado, regenerado; ver que essas famílias estão trabalhando naquela terra; e conseguindo mostrar que é possível produzir, permanecer e viver harmoniosamente naquele espaço, me deixa muito contente”.

Para o procurador, a experiência “mostra a todos nós que podemos recuperar o meio ambiente com qualidade e ter também o respeito a todas essas famílias que lá se encontram”.

Em 2017, o acampamento ganhou o prêmio “Juliana Santilli” do Instituto Socioambiental (ISA) de conservação e ampliação da agrobiodiversidade.

CARTA EM DEFESA DO ACAMPAMENTO JOSÉ LUTZENBERG

Exmª Sra. Maria Aparecida Borghetti – Governadora do Estado do Paraná. Exmª Sra. Louise Nascimento e Silva – Juíza da Comarca de Antonina. Exmº Sr. Ivonei Sfoggia – Procurador Geral de Justiça do Ministério Público do Paraná. Exmº Sr. Dr. Olympio Sotto Maior Neto – Procurador de Justiça – Coordenador Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça (Caop) de Proteção aos Direitos Humanos. Exmº Sr. Jose Paulo Vieira Azim – Prefeito de Antonina. Ilmº Sr. Walter Nerival Pozzobom – Superintendente Regional do Incra no Paraná.

Prezadas senhoras e prezados senhores,

O documentário “Agrofloresta é mais”, produzido pela Fundação Oswaldo Cruz, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Paraná, Associação Paranaense das Vítimas Expostas ao Amianto e aos Agrotóxicos, Ministério Público do Trabalho do Paraná; conta a história do acampamento José Lutzenberger – município de Antonina – Paraná. Tudo começou em 2004 com a ocupação por pequenos produtores de uma propriedade – localizada em uma reserva ambiental de Mata Atlântica – cuja floresta estava totalmente destruída pela criação de búfalos.

O desafio dos ocupantes era recuperar ambientalmente a área e assegurar a produção de alimentos para a sobrevivência da comunidade. O documentário “Agrofloresta é mais” registra esta experiência de organização e trabalho. Esse documentário foi traduzido para o espanhol, inglês e francês e está sendo distribuído para diversas organizações nacionais e internacionais, para dar visibilidade a esse modelo de produção agroflorestal de convívio harmonioso com a natureza.

Em 2017 o acampamento José Lutzenberger ganhou o prêmio “Juliana Santilli” do Instituto Socioambiental (ISA) de conservação e ampliação da agrobiodiversidade.

Temos conhecimento da existência no INCRA Paraná, de Processo de Obtenção amigável da área, que está em fase final de instrução, faltando à assinatura dos confrontantes e a atualização dos dados da cadeia dominial. Entretanto, há decisão judicial determinando o despejo com força policial das famílias que há mais de 15 anos vivem e trabalham na área, com a demolição das casas, escola, área de produção, ciranda infantil, centro comunitário, sede da agroindústria de processamento de alimentos, viveiro de mudas e os 20 hectares de agrofloresta em produção.

Mensalmente as famílias entregam 15 toneladas de variedades de alimentos agroecológicos certificados (banana, laranja, goiaba, fruta do conde, a raça, batata-doce, cará, inhame, palmito pupunha, polpa de açaí juçara, hortaliças) para 70 escolas da rede municipal e estadual em 5 municípios (Antonina, Morretes, Pontal do Sul, Guaratuba, Matinhos) no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Estamos apreensivos e preocupados com a possível destruição total da Comunidade Agroflorestal José Lutzenberger, que é fruto do trabalho humano e coletivo das famílias nos últimos 15 anos. Para isso solicitamos ao Governo do Estado, INCRA, Poder Judiciário, Ministério Público do Paraná e Prefeitura Municipal de Antonina uma solução definitiva para as famílias.

Nós das entidades abaixo relacionadas que subscrevemos esta carta, acompanharemos todo o processo até a solução definitiva da questão.

Centro de Pesquisa e Extensão em Direito Socioambiental – CEPEDIS

Terra de Direitos

Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva – UFPR

Observatório do Uso de Agrotóxicos e consequências para a Saúde Humana e Ambiental do Paraná

Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional

Associação Brasileira de Agroecologia – ABA

Associação dos Professores da UFPR – APUFPR

Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO

Associação Paranaense de Expostos ao Amianto e aos Agrotóxicos

Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo – CEFURIA

Caritas Brasileira Regional Paraná

Coletivo de Estudos Sobre Conflitos pelo Território e pela Terra – ENCONTTRA

Associação dos Portadores de Lesões por Esforços Repetitivos PR – APLER

Associação Brasileira da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora – ABRASTT

Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná – SENGE-PR

Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa – ASPTA

Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – AGAPAN

Coletivo a Cidade Que Queremos – Porto Alegre

Centro de Estudos, Defesa e Educação Ambiental-CEDEA

Central Única dos Trabalhadores/RS

Centro de Estudos de Geografia do Trabalho – CEGET (UNESP)

Centro de Estudos do Trabalho, Ambiente e Saúde (UNESP)

Multisectorial Paren de Fumigarnos – Santa Fé, Argentina

Centro de Promoção de Agentes de Transformação – CEPAT

Programa “Promoção da Saúde Ambiente e Trabalho” – Fiocruz, Brasília

Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB

Fórum Baiano de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos

Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos estaduais dos Serviços de Saúde e Previdência do Paraná – SINDSAÚDE/PR

APP-Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná

Fórum Estadual de Combate aos Agrotóxicos e Controle do Tabaco do Paraná

Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina – SINDIPETRO

Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Petroquímica no Estado do Paraná – SINDIQUIMICA-PR

Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Paraná – FETRAF

Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural – ASSESOAR

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST

Via Campesina

Frente Mobiliza Curitiba

Centro Acadêmico AgroFlor&Ser do Curso de Agroecologia da UFPR litoral

Coletivo Triunfo

Canoa Sociambiental

 

Texto: Ednubia Ghisi

 

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