EPISÓDIO – Dinheiro pra quem tem dinheiro, imposto pra quem é pobre

PODCAST ESPECIAL POR DENTRO DA REFORMA TRIBUTÁRIA

Comunicação
06.AGO.2024

Um assunto que deveria estar presente no café da manhã de cada brasileiro, no bate papo de barzinho de cada brasileira, antes e depois do culto, no intervalo do jogo de futebol. Mas o assunto não está no cotidiano da população, embora atinja todo mundo. Uns, muito mais; outros, bem menos. 

Estamos falando dos impostos do Brasil e da discussão da Reforma Tributária . Neste primeiro episódio do Podcast especial “POR DENTRO DA REFORMA TRIBUTÁRIA”, vamos tratar de como os pobres pagam mais impostos, a questão de se onerar a renda e o patrimônio. E também o falso argumento de que taxar os mais ricos pode desaquecer a economia. Este é o Senge Play, produzido em parceria com o DIEESE Paraná, com apoio, publicação e distribuição do Brasil de Fato. 

Episódio | Dinheiro pra quem tem dinheiro, imposto pra quem é pobre

O Governo Federal apresentou uma proposta de Reforma Tributária. A ideia é unificar impostos e acabar com a cobrança em duplicidade que penaliza os mais pobres. A proposta ainda visa taxar a renda e o patrimônio, aumentando a contribuição dos endinheirados. 

Um diagnóstico do Sistema Tributário Brasileiro pode ser realizado analisando diversos aspectos. Um deles é a sua estrutura, que penaliza os mais pobres, consequência da regressividade do sistema. Outro aspecto são os privilégios tributários e algumas características que prejudicam a arrecadação, ocasionando um elevado patamar de sonegação.

Grupo de Trabalho sobre Reforma Tributária – PLP 68/24. Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Com relação à regressividade do sistema, ela se dá em virtude do fato que quase metade da arrecadação se dá a partir da tributação sobre o consumo. Ela acaba sendo a mesma, independente da renda das pessoas, exemplo da tributação sobre vários produtos e serviços, como as tarifas públicas que têm alíquotas elevadas de ICMS.

O Economista e supervisor técnico do DIEESE-PR, Sandro Silva, explica porque os pobres são os mais penalizados atualmente. 

“Os mais pobres acabam sendo penalizados porque, no Brasil, porque o nosso sistema é extremamente regressivo. Ele acaba tributando mais as pessoas mais pobres, porque quase metade da arrecadação advém da tributação sobre o consumo”.

No Brasil, tributação é maior sobre o consumo

CABO DE GUERRA | Se tributa o consumo no lugar da renda e patrimônio

Dinheiro para quem tem mais dinheiro. Dinheiro para quem paga menos impostos. Essa é a avaliação do Sistema Tributário brasileiro. De acordo com o especialista, a tributação sobre a renda e a propriedade, que normalmente são mais progressivas, e que aumentam conforme a faixa de renda e o valor do patrimônio, no Brasil são relativamente baixas. Esta é uma estrutura inversa do que é verificado nos países mais desenvolvidos. Nessas nações, a carga tributária é mais focada na renda e no patrimônio do que no consumo.

Foto: Pixabay

“Uma alternativa sobre a regressividade do sistema à forte tributação sobre o consumo é a gente começar a tributar mais a renda e o patrimônio. Nos países desenvolvidos, a maior parte da tributação é sobre renda e patrimônio. Você vai aumentando a alíquota sobre a renda, principalmente das pessoas ou famílias que têm renda bem mais elevada. Fazer o que faz no mundo”. 

No mundo, imposto é maior sobre a renda

TEM QUE AMARRAR DIREITO | Enquanto o Brasil taxa o consumo, na Europa a carga  tributária é focada nos mais ricos

E vamos aos números. Em 2019, em média nos países da OCDE, 39,5% da tributação era sobre a renda e patrimônio, 32,6% sobre o consumo e 25% Contribuição Social. Nos EUA era 58,2% sobre a renda e propriedade, 24,3% de Contribuição Social e apenas 17,5% sobre o consumo. Em contrapartida, no Brasil 44,5% era sobre o consumo, 27,6% sobre a renda e a propriedade e 26,1% de Contribuição Social.

ROENDO A CORDA | É falso o argumento de que taxar ricos desaquece a economia

Mas por que eu tenho que entregar para o governo o dinheiro que lutei tanto pra ganhar? Taxar quem ganha mais, os ricos, deve acabar desaquecendo a economia?

Você já deve ter lido esses argumentos, mas não é bem assim não. A seguir, o economista Sandro Silva esclarece esse fato de que a taxação dos ricos e suas fortunas não tira dinheiro da economia. Segundo o economista Sandro Silva, com a tributação sendo menor sobre o consumo, vai aumentar a renda disponível de quem ganha menos. Isso aquece a economia e diminui a concentração de renda.

“Uma dúvida é se o aumento irá afetar a economia e os investimentos. Por outro lado, o que ocorre: com a tributação menor sobre o consumo, vai aumentar a renda disponível das famílias que ganham menos. Reduzindo as tarifas públicas, sobre alimentação, vai fazer com que a maioria da população aumente sua renda e aumente o consumo, aquecendo a economia”.

Os mais pobres, quando têm mais dinheiro, consomem mais

PUXA A CORDA PARA NÓS | A reforma que interessa a classe trabalhadora

  • – E qual é “A reforma tributária que interessa a trabalhadores e trabalhadoras”? Anote aí:
  • – É a que promove a taxação sobre ganhos de capital, grandes fortunas (IGF), dividendos de ações, lucros, entre outros.
  • – A que cobra IPVA para os veículos aquáticos e aéreos, ITCMD (Imposto da herança)  progressivo, em valor da transmissão, e o que permite atualização dos valores do IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana).
  • – Ainda interessa Tributar os bens supérfluos e de luxo e enfrentar os diversos lobbys e privilégios.

Mas isso tudo é tema para o próximo episódio. Nele comentamos ainda sobre desoneração da folha de pagamento, a famosa dívida pública e a sonegação de impostos. Não perca.

REPORTAGEM | Manoel Ramires/Senge-PR

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