Por Leandro Grassmann, presidente do Senge-PR
O recente pagamento de bônus aos Diretores da Copel abriu a ‘Caixa de Pandora’ e permitiu que fossem expostas as injustificáveis razões pelas quais a Diretoria da Companhia se norteia. Quanto menos se paga aos empregados, mais a Diretoria ganha. Quanto mais lucro provindos da redução de custos com funcionários, mais a Diretoria ganha.
Essa mentalidade pode ser vista na “divulgação” dos resultados e as metas da Presidência. Elas, por exemplo, demonstram que 20% do bônus estão atrelados à redução de custos PMSO (Pessoal, Materiais, Serviços e Outros), enquanto outros 30% são dependentes do aumento do EBITDA (ou LAJIDA em português – Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciações e Amortizações). Em outras palavras, quanto menos se paga aos empregados e quanto mais lucro, maior o bônus do presidente Daniel Slaviero Pimentel. De acordo com o gráfico abaixo, metade do bônus da Presidência depende de aumentar os lucros, principalmente às custas de redução de despesas com “Pessoal”.
A divulgação desses indicadores não deveria causar espanto, afinal o Senge já vem apontando há muito tempo que a prioridade da atual gestão da Companhia é gerar lucros e reduzir pessoal. Veja em:
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Correndo o risco de sermos repetitivos, o que se escancara com essas metas é a sanha pelo lucro, custe o que custar. Reduza-se o quadro de empregados. Diminua-se bônus e PLR. Os empregados recebem cada vez menos, a Diretoria recebe cada vez mais. A relação dos ganhos do maior para o menor salário chega a aproximadamente 21 vezes. Se incluir os bônus, passa de 28. Ou seja, o Presidente ganha quase 30 vezes mais que um Eletricista.
Qualidade de serviço e opinião da população não importam
O que causa desconforto é ver que não há nenhuma meta atrelada à qualidade de serviço, investimentos ou expansão de rede. Nada! Nem 1% sequer! As metas são praticamente todas vinculadas a resultados financeiros. Não há qualquer indicador que demonstre a preocupação da gestão em atender a sociedade. Não há, a julgar pelos fatos, preocupação da gestão com questões sociais. Também parece que não estão nem um pouco preocupados com a imagem da Companhia e com a forma como a população vê a gestão. Afinal, não há nenhuma meta que coloque essas questões “no radar” da Presidência.
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Quem define essas metas? Porque essa informação não é pública?
Já que não há divulgação, ficam questionamentos: Afinal, quem define as metas do Presidente e da Diretoria? Há participação de algum representante da sociedade ou dos consumidores? As metas são modificadas ao longo do ano? Onde são registradas? Quem audita os resultados?
O que podemos afirmar categoricamente é que não há, nunca houve, divulgação das metas da alta Direção da Companhia. Não fosse pela falha no sistema, que permitiu que todos os empregados tivessem acesso, nunca saberíamos. Não há qualquer menção no site da Copel, as atas do Conselho de Administração somente citam o prêmio, sem detalhamentos, as Assembleias de Acionistas nunca trataram do assunto.
Não há transparência. A Copel é uma empresa de economia mista. Ou seja, parte do seu capital é público – pertence a todos os Paranaenses. E, como empresa pública, deveria ter mais publicidade a respeito de sua gestão. Ao decidir por não divulgar informações como essas, a gestão demonstra que não está disposta a discutir ou sequer tratar de questões como a própria remuneração. Ao dar sigilo às métricas e fiscalização da sua atuação, mostra que não quer ser incomodada ou controlada pela sociedade.
Está certo isso? Claro que não! Como empresa pública, a Copel deveria ser exemplo de transparência, compliance e acesso às informações. Decisões que envolvam remuneração dos administradores deveriam ter ritos e processos similares aos adotados para os demais empregados. Afinal, porque a Diretoria pode definir seus proventos e os empregados devem se sujeitar às limitações orçamentárias impostas por essa mesma Diretoria? Por que ter duas réguas e duas medidas? Aonde está determinado que um Profissional mereça receber somente 1 salário como bônus enquanto um Diretor pode receber 6 remunerações?
Infelizmente este é o retrato da gestão da Copel. Enriquecimento imoral da alta gestão, desvio dos recursos da Companhia para os acionistas, redução de investimentos. Tudo sob o suposto manto da meritocracia e do mercado. Há que se aumentar a cobrança e pressão sobre os Dirigentes da Copel para que se dê a devida publicidade e que se propicie a discussão necessária quanto a temas tão importantes.