A crise hídrica e o risco de apagão não parecem ser motivos suficientes para que a Copel mude sua política de negócios. A empresa pretende distribuir antecipadamente R$ 1,43 bilhões em proventos regulares referentes ao exercício de 2021, de acordo com a Política de Dividendos da Companhia, ainda em novembro deste ano. Nada menos que R$ 600 milhões são referentes a parte da privatização da empresa de banda larga, Copel Telecom, contrariando o discurso de que não utilizaria esses recursos para remunerar os acionistas privados e de que investiria completamente a verba em investimentos no “negócio Copel Energia”.
O comunicado ao mercado quebra o compromisso da Copel e do Governo do Paraná de não utilizar recursos da venda bilionária da Telecom para remunerar o capital privado. Na época da venda, o presidente da companhia declarou:
“A Copel está focada em projetos que garantam a segurança e eficiência energética aos seus 4,9 milhões de clientes. Para isso, estamos realizando os maiores investimentos da história em redes de distribuição de energia, na casa de R$ 1 bilhão a cada ano”, afirmou o presidente da Copel, Daniel Slaviero.
Por outro lado, deixou claro que o negócio da Copel é gerar lucro pro mercado financeiro. “Estamos trabalhando com disciplina na alocação de capital, baseada em políticas sólidas de meio ambiente, participação ativa na sociedade e forte governança, com a meta de ampliar a base de ativos da Copel e aumentar os retornos aos nossos acionistas e clientes”, completou.
Na mesma linha afirmava o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), em entrevista coletiva. Segundo ele, o dinheiro da Telecom seria investido na modernização do Paraná Trifásico e na implantação da Rede Elétrica Inteligente. “Vamos levar energia de mais qualidade para o produtor”, destacou. A melhoria no abastecimento de energia tem sido uma demanda da agroindústria, que utiliza equipamentos e novas tecnologias que demandam redes mais estáveis. “Para industrializar precisa de energia de qualidade”, disse à Gazeta do Povo.
O discurso de ambos é desmentido pelo comunicado ao mercado. O Conselho de Administração (“CAD”) aprovou o 1º evento de pagamento de proventos regulares referentes ao exercício de 2021 em novembro, no montante bruto total de R$ 1.437 milhões, a serem pagos em 30.11.2021 (data ex 01.10.2021), contra os lucros líquidos do exercício apurados em 30.06.2021 (“Proventos Intercalares”), sendo (i) dividendos intercalares de R$ 1.197 milhões; e (ii) juros sobre capital próprio (“JCP”) de R$ 240 milhões.
“Seguindo os parâmetros da Política, o cálculo dos Proventos Intercalares é composto por: (i) R$ 837 milhões calculados com base no lucro líquido do 1º semestre de 2021; e (ii) R$ 600 milhões como antecipação de parcela dos dividendos regulares em função do excesso atual de liquidez, principalmente pelo advindo dos recursos extraordinários recentes da alienação da Copel Telecom e do recebimento integral da CRC – Conta de Resultados a Compensar.
Governo descumpriu sua propaganda
Para especialistas, o ágio na venda da Copel Telecom está sendo distribuído em um momento em que os investimentos em geração, transmissão e distribuição de energia são tão vitais para enfrentamento da crise energética que enfrentamos.
O alerta já havia sido feito pelo presidente do Senge-PR ao se opor à privatização e à destinação dos recursos. Para Leandro Grassmann, as conferências de resultados e informes aos acionistas são um prato cheio para demonstrar que a política da companhia é gerar mais lucro, mesmo que tenha que abrir mão de ativos rentáveis como a Copel Telecom.
“O passado nos mostra que a prioridade é lucros elevados e remuneração de acionistas. Preocupa-nos a possibilidade de dissolver os recursos da Telecom para a mesma finalidade e não investir na Copel em Geração, Transmissão e Distribuição como havia sido prometido pelo Governador e pelo Presidente Daniel”, comparou Grasmann ao comentar a queda dos investimentos.