A Copel obteve seu maior resultado da história em 2021: R$ 5,0 bilhões. O montante é comemorado pelo presidente da companhia, Daniel Slaviero. “Pelo segundo ano consecutivo também tivemos a proposição de distribuição de dividendos robustos, o equivalente a 65% do lucro líquido ajustado, a ser apreciado pela Assembleia Geral Ordinária, conforme dispõe a nossa política de dividendos”. Esse resultado exorbitante, no entanto, está inflado pela privatização da Copel Telecom. Política exaltada pelo presidente e que se contrapõe ao argumento de Slaviero e do Governo do Paraná de que esse lucro não iria abastecer a carteira dos acionistas.
De acordo com o relatório de resultados dos quatro trimestres de 2021, o lucro total da Copel aumentou. Bateu em 5,1 bilhões de reais. Por outro lado, o lucro das operações ativas (linha azul do gráfico) é praticamente o mesmo de 2021. Ou seja, o lucro foi inflado pela venda da Telecom.
A informação é admitida por Daniel Slaviero no seu comunicado ao mercado. “Ao longo do ano, avançamos em nossa estratégia em busca de uma atuação focada no core business da Copel, o setor de energia elétrica. Concluímos o desinvestimento da Copel Telecom, que injetou R$ 2,5 bilhões no caixa da Companhia, e iniciamos a preparação do processo de venda da Compagas, que estimamos ser concluído em 2022”, direcionou.
Com essa política de privatizar para abastecer a conta dos acionistas, a remuneração aumentou de R$2,5 bilhões para R$3,08 bilhões. Para o presidente do Senge-PR, que acompanha a empresa de perto, cai por terra o argumento de que as privatizações serviriam para melhorar o negócio Copel.
“Essa diretoria da Copel não esconde que seu objetivo é gerar lucro para os acionistas. Governo do Paraná inclusive, já que é o maior acionista e se beneficia desses resultados. Portanto, se o custo de vida dos paranaenses está caro, os responsáveis são aqueles que gerenciam a Copel e o governador Ratinho Junior”, aponta Grassmann.
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Acionistas ganham mais do que todos os empregados juntos
O relatório ainda deixa claro que mesmo sem trabalhar um dia sequer, os donos das ações da Copel embolsam muito mais dinheiro do que todos aqueles que fazem com que a Companhia de Energia opere ininterruptamente e forneça energia aos Paranaenses. Segundo balanço divulgado, o custo total de mão de obra em 2021 foi de R$2,05 bilhões. Estão inclusos nesta soma salários, impostos e benefícios.
Por outro lado, os acionistas embolsaram R$3,08 bilhões Ou seja, 50% a mais do que os empregados. “Essa diferença mostra quem a Copel e o governo valorizam. O tal mercado, aquele que não faz absolutamente nada pela população paranaense, sem construir um metro de rede, sem gerar um kW de energia, ganha mais”, sublinha o presidente do Senge-PR. Para a entidade, este é um dinheiro que sai da Copel e nunca mais volta. Dinheiro pago por todos nas altas tarifas de energia. E tudo isso porque são distribuídos 65% do lucro da Copel. Esse dinheiro deixa de ir para investimentos necessários, mas vai para o mercado financeiro.
Enxugando empregos e aumento tarifa
O lucro da Copel consiste em um tripé: privatização, aumento da tarifa e programa de demissão. A empresa comemora o reajuste de 8,73% ocorrido no 5º ciclo de revisão tarifária enquanto lamenta ter que pagar a “participação nos lucros (PLR), em que houve um aumento de 2,1%, apesar do reajuste salarial de 10,78% aplicado através de acordo coletivo em outubro de 2021”.
Parte dessa despesa foi absorvida pela adesão de 461 empregados no PDI com economia anual estimada de R$ 153,9 milhões na rubrica de pessoal a partir de fevereiro de 2022. “Concluímos um novo programa de desligamento incentivado aos nossos empregados, com 461 adesões, que vai poupar cerca de R$ 154 milhões por ano em gastos com pessoal. A iniciativa está alinhada com a estratégia da Companhia de intensificar a transformação digital, com redução de custo, mantendo os mais altos níveis de qualidade. Além de uma indenização, os empregados que aderiram contarão com benefícios e incentivos da empresa por mais um ano”, destaca Slaviero em sua mensagem.
Tarifas serão tema de campanha eleitoral
O ex-governador Roberto Requião, pré-candidato ao governo do estado, disse que Ratinho Junior serve ao grande capital e não a população paranaense. No lançamento de sua candidatura, ele citou os reajustes da água da Sanepar e luz da Copel à custa das pessoas e dos pequenos comerciantes. Requião disse que essa política que sufoca os paranaenses vai ser revista.
“Reafirmo o pacto de colocar o estado a serviço do povo do Paraná. Desprivatizar, dar reajuste dos servidores, devolver a alegria na sala de aula, congelar tarifas de água e luz”, disse.
As tarifas são temas constantes de questionamento na Assembleia Legislativa. Segundo o Líder do PROS na Assembleia Legislativa, Soldado Fruet, a tarifa de energia elétrica é cara “primeiro, porque o governador cobra 29% de ICMS sobre as contas de luz”.
Já a deputada Luciana (PT) disse que “a população amarga sucessivos reajustes no preço de serviços, taxas, produtos, que diminuem diariamente seu poder de compra, ao mesmo tempo em que vemos aumentar os lucros de inúmeras empresas”. Para ela, “levando em consideração a situação econômica da população de nosso estado, solicitamos que a Copel não utilize os índices da revisão tarifária periódica para aumento na tarifa praticada pela empresa”.
Na análise do deputado Requião Filho, esse é o resultado de uma política entreguista, que privatiza as estatais para gerar lucro a investidores estrangeiros, sem compromisso com os investimentos necessários que priorizem a população.
“O paranaense sofreu muito durante a pandemia e viu suas tarifas de luz aumentarem brutalmente, mas não teve o mesmo retorno, o mesmo olhar cuidadoso do Governo do Estado. Nem em investimentos, nem em incentivos para aliviar o bolso dessas famílias. Agora a Copel vai distribuir a maior parte desse lucro e pagar dividendos complementares bilionários a quem sequer conhece o Paraná”, criticou.