Não basta denunciar, é preciso acolher. Não pode apenas acolher, é fundamental também conscientizar. Essas três palavras foram o lema da live promovida pelo Coletivo de Mulheres do Senge-PR com o tema “Violências contra a mulher: como lidar com assédio moral e sexual e outras agressões”. A engenheira agrônoma e Diretora da Regional do Senge-PR de Campo Mourão, Losani Perotti, conduziu o debate com a pós-doutora em história, Tania Tait, e com a historiadora, advogada e apresentadora da Rádio UEL FM, Eliane Patrícia Araújo. A conversa, que pode ser vista e compartilhada a partir do Facebook do sindicato, versou sobre a violência contra a mulher, o papel da sociedade no enfrentamento do problema, como as entidades podem e devem se engajar na causa e os mecanismos para coibir a violência sexual, moral e o feminícidio.
Na live, Eliane Patrícia de Araújo, que é advogada e historiadora, falou sobre seu trabalho enquanto pesquisadora e apresentadora da coluna “Precisamos falar sobre Maria da Penha” na Rádio UEL FM”). Já Tania Tait, pós-doutora em História das Mulheres e fundadora da ONG Maria do Ingá – Direitos da Mulher e do Fórum Maringaense de Mulheres, falou a respeito do seu trabalho enquanto pesquisadora e voluntária na ONG e no fórum.
Elas debateram a importância da Lei Maria da Penha como uma importante ferramenta para proteger, acolher e conscientizar mulheres, homens e a sociedade. Tania reforçou que no Paraná, dos 399 municípios, apenas 20 cidades possuem Delegacia da Mulher. Segundo ela, a falta de atuação do estado não contribui para o enfrentamento de um problema estrutural.
Outro tópico dessa crise “enraizada” na cultura nacional é a violência institucional. Foi debatido o caso da da deputada estadual Isa Penna, que foi assediada em 2020 pelo deputado Fernando Cury. Enquanto Isa Penna estava conversando com o presidente da sessão, ele se aproxima dela e apalpa seus seios. Em abril deste ano, a Alesp aprovou por unanimidade a perda temporária do mandato do deputado Fernando Cury por 180 dias no processo em que a deputada Isa Penna o acusou de importunação sexual.
Combate organizado
Para as debatedoras, o silêncio só favorece o agressor, seja em casos de assédio moral ou sexual. O mesmo “cale-se” e “nada fale” só beneficia agressores na violência doméstica.
Dados divulgados em dezembro de 2020 pelo Instituto Patrícia Galvão mostram que 76% das mulheres já sofreram algum tipo de assédio no ambiente de trabalho. E como se sentem e reagem as mulheres que já viveram essas situações? Tristeza, ofensa, humilhação e raiva são os sentimentos mais comuns. Por outro lado, o levantamento revelou que apenas 16% disseram não ter se importado com os casos, em apenas 28% dos casos relatados, a vítima soube que o agressor sofreu alguma consequência e em 39%, a vítima não soube o que houve com o agressor e. A impunidade também é uma marca quando em 36% nada aconteceu com o agressor e ele sequer foi punido.
Diante desses, a avaliação é de que apenas a denúncia não é suficiente. A mulher vítima de assédio ou agressão precisa ser acolhida e é papel das instituições promoverem isso. A Copel e a Sanepar, por exemplo, a pedido dos sindicatos, acataram a pauta social que garante afastamento de 10 dias para mulheres vítimas de abuso.
Mas isso ainda é pouco. É necessário que empresas, locais de trabalho formem comitês que possam conscientizar a sociedade, em todas as faixas etárias, sobre o tema para que o feminicídio diminua no Brasil (648 casos foram contabilizados em 2020), para que a mulher vítima de abuso sexual ou moral não seja colocada em dúvida ou se torne suspeita. Há muito que se caminhar e há muitas mulheres prontas a marchar.