Às 7h30 da manhã do dia 17, Cristian Junior Vozniak e o irmão Lucas saíram de casa, no município de Planalto, para se juntar à caravana de mais de 50 pessoas do Paraná rumo ao Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), em Brasília.
Cerca de 1.600 quilômetros rodados e grupo chegou à capital federal, às 1h30 do dia 19, para se somar a outras 7 mil pessoas, também vindas do interior e de grandes cidades brasileiras. Deste total, 170 vieram de outros 35 países do mundo, dos cinco continentes. Todos estão reunidos, até esta quinta-feira (22), em atividades de formação e mobilizações. Esta diversidade de pessoas tem uma coisa em comum: a defesa da água com um direito, e não com uma mercadoria que pode ser negociada.
Como resultado dos debates de quase uma de preparação para o FAMA, o Comitê Paranaense do Fórum elaborou um “Manifesto pelas águas do Paraná”. O mote principal do documento é a posição contrária à privatização das águas, pelo direito à água e não mercantilização desse recurso natural. A carta foi aprovada por unanimidade em uma reunião do estado durante o FAMA, e tem adesão de 17 movimentos e entidades.
“A aceitação dele por todas as entidades que estão aqui presentes reflete, cada vez mais, a consciência e a importância de termos esse processo em discussão, de forma continuada”, aponta o engenheiro agrônomo Paulo Roberto Castella, servidor público da Secretaria de Meio Ambiente do Paraná e integrante do Comitê do FAMA Paraná. Castella classifica o documento como um “dossiê” que contempla o que realmente está acontecendo com relação aos recursos hídricos no estado.
Pautas do Paraná
No caso de Cristian, os motivos que o levaram ao Fórum são as consequências negativas da construção da Usina do Baixo Iguaçu, na divisa entre Capanema e Capitão Leônidas Marques. Mais de mil famílias são afetadas, ainda sem garantia de indenização ou realocação digna. Ele é integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens, organização componente da coordenação nacional do FAMA.
A defesa das empresas pública de saneamento e energia também está no centro das preocupações. Vera Lucia Nogueira, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores nas empresas de água, esgoto e saneamento de Maringá e região noroeste do Paraná (Sindaen), reforçou a defesa da Sanepar, também ameaçada pela onda de privatizações: “Temos que defender a água como direito, como vida. A empresa [Sanepar] como um todo é um bem de todo o Paraná, por isso temos que defende-la”. O Comitê Paranaense do FAMA aprovou um documento com a adesão de 17 entidades, em que apresentam as reivindicações do estado.
Os municípios presentes são: Curitiba, Maringá, Cascavel, Umuarama, Goioerê, Matinhos, Planalto, Dois Vizinhos, São Carlos, Francisco Beltrão, Brunópolis, Clevelândia, Pato Branco, Paranacity, Marmeleiro, Paraíso do Norte, Rebouças, Nova Prata, Palmeira, Bituruna, Bom Jesus do Sul, Pérola do Oeste, Candói e Contenda.
Contraponto
O FAMA acontece em oposição ao Fórum Mundial da Água, que nos mesmos dias em Brasília, batizados pelos movimentos sociais como “Fórum das corporações”. O apelido está relacionado às grandes empresas integrantes do evento, com Coca-cola, Nestlé e Ambev. O governo golpista de Michel Temer (MDB) é um dos financiadores e apoiadores do Fórum oficial, onde negocia a privatização do setor elétrico e de saneamento.
A engenheira civil Maria Cristina Graf, integrante da direção estadual do Sindicato de Engenheiros do Paraná (SENGE-PR), vê com preocupação este movimento do governo federal para vender o patrimônio público: ‘Nós temos que lutar para que isso não aconteça. Não podemos nos entregar a essas corporações que vêm aqui, como era antigamente, saquear a América Latina”, afirma a engenheira.
Texto: Ednubia Ghisi, do Senge/PR
Foto: Joka Madruga