Combate à pandemia deve ser prioridade à normalização do teletrabalho

“Comodidade” e medo de perder emprego influenciam na adoção do modelo

Palestras discutiram a ergonomia e o teletralho durante e após a pandemia. Foto: Manoel Ramires/Senge-PR
Comunicação
10.AGO.2020

Por Manoel Ramires/Senge-PR

A pandemia de coronavírus obrigou as pessoas e empresas a adotarem rapidamente o modelo de home office, o conhecido teletrabalho. Contudo, a urgência da medida está fazendo com que o “novo normal” venha para ficar diante de uma legislação deficitária e acordos coletivos frágeis para que realmente sejam benéficos para todos e não apenas mais uma forma de exploração dos trabalhadores. 

“Não é hora de negociar com as empresas, pois as pessoas estão com medo do risco de contrair o vírus, e poderão aceitar condições desfavoráveis para elas”, alerta José Marçal Jackson Filho, engenheiro de Minas, doutor e pesquisador em Ergonomia da Fundacentro/PR. Já para Vanessa M. Farias, engenheira de Segurança do Trabalho e assistente técnica em perícias judiciais, acredita que a prioridade do momento, tanto para empresas quanto para trabalhadores,  ainda deve ser o combate à pandemia. O país atingiu a marca de 100 mil mortes e 3 milhões de contaminados.

Ambos participaram de uma transmissão ao vivo realizado pelo Senge-PR, em suas redes sociais, com o tema “Ergonomia e Home Office”. Vanessa Farias esclareceu que o modelo não exatamente uma novidade no país. Ele já é existe como uma possibilidade desde 1970 com diversos registros nestes últimos 50 anos. Mas foi a pandemia que fez acelerar os processos, o que representou 8,2 milhões nestas condições em maio deste ano. Segundo a assistente técnica, os trabalhadores foram deslocados apressadamente para o trabalho remoto e, em geral, ainda não tiveram a oportunidade de concluir sobre as mudanças em suas vidas, em meio à pandemia.

Segundo Vanessa, em uma pesquisa recente realizada pela Faculdade de Economia da USP, houve adesão dos entrevistados ao trabalho remoto, sendo que os pesquisadores apresentaram como hipóteses para essa preferência “o alívio de estar empregado, a segurança de estar em casa em plena pandemia e o ganho de tempo com o não deslocamento. Por outro lado, destaca que hoje os trabalhadores remotos têm a carência da infraestrutura e que houve uma invasão do ambiente familiar pelo trabalho, além de as pessoas declararem que acabam trabalhando mais do que nas jornadas presenciais. 

Palestrantes avaliaram que o teletrabalho é uma modalidade que cada vez mais será adota, mas que precisa de melhor regulamentação e debate. Foto: Manoel Ramires/Senge-PR

Para a assistente técnica, é fundamental avaliar a condição das mulheres nesse processo. De acordo com pesquisa Data folha, os afazeres domésticos dificultam home office para 64,5% das mulheres. Dos entrevistados que acumulam a maior parte do cuidado com a casa, 57% eram mulheres e 21% eram homens. “Ganhamos menos (engenheiras ganham o equivalente a 82,1% dos rendimentos dos homens) e com o teletrabalho e o acúmulo de tarefas domésticas durante a pandemia, trabalhamos mais”, constata.

O pesquisador da Fundacentro/PR, José Marçal Jackson Filho, entende que muitos foram levados ao teletrabalho repentinamente, sem ter sido possível preparação para tal mudança, Analisando o discurso de gestores e na literatura, observou que segundo os empregadores, o teletrabalho favorece a redução de custos e o aumento da produtividade. Para os trabalhadores e gestores de estudo sobre implantação no SERPRO, as desvantagens foram não adaptação, falta de comunicação, perda de vínculo com a empresa, problemas psicológicos, infraestrutura deficiente e mecanismos de controle do teletrabalhador, conforme estudo acadâmico de Filardi.

Ele teme que o teletrabalho possa ser adotado em projetos em que os trabalhadores não participarão da sua construção ou serão consultados sobre as decisões que poderão influenciam suas vidas. Para José Marçal Jackson Filho, a discussão sobre a ergonomia no trabalho está além da questão do mobiliário. Falta aos trabalhadores condições como computadores, iluminação adequada, conexão de internet, ambiente, entre outros. 

“É necessário fazer simulações para prevenir os possíveis problemas de saúde. Isso contribui para a solução dos problemas e mais proteção para os trabalhadores”, conclui.

Produtividade e metas

Ambos demonstram preocupação com a relação jornada de trabalho com o aumento da demanda e como o empregador exerce esse controle. Para a especialista em segurança do trabalho, é preciso mais atenção em relação ao monitoramento do trabalho: seja por tempo, por produtividade ou por software. Também julga ser necessário avaliar a natureza do trabalho e organização do trabalho x metas e produtividade. 

Já o pesquisador indaga: “por que quem está de trabalho remoto precisa ter aumentado suas metas? Ainda mais diante da falta de infraestrutura adequada em relação a quem está no trabalho presencial. As metas devem levar em consideração todas as atividades desenvolvidas pelos empregados”, sinaliza.

::. Confira a transmissão ao vivo do Senge/PR “Ergonomia e Home Oficce”

::. Apresentação: Ergonomia e home office. Por Vanessa M. Farias, engenheira de Segurança do Trabalho e assistente técnica em perícias judiciais

::. Apresentação: “Contribuição da Ergonomia para o desenvolvimento do teletrabalho entre os engenheiros”. Por José Marçal Jackson Filho, engenheiro de Minas, doutor e pesquisador em Ergonomia da Fundacentro/PR

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