A Copel tem que ser nossa

Audiência Pública aborda livro que resgata luta dos paranaenses contra a privatização da maior companhia do Paraná

Foto: Dalie Felberg/Alep
Comunicação
15.AGO.2022

Por Manoel Ramires

A Copel é nossa? Nem tanto assim. Este é o saldo da audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Paraná, a convite dos deputados Professor Lemos e Tadeu Veneri, com apoio do Senge-PR, Sindiedutec, CREA-PR, UNE, UPES e entidades que participaram ativamente da mobilização que impediu a privatização da Copel, exatamente há 21 anos, em 15 de agosto de 2001. Mas se a empresa não foi privatizada, como conta o escritor e engenheiro eletricista Sérgio Inácio Gomes, porque ela não é mais tão nossa?Porque embora ela não tenha sido vendida no passado, atualmente ela está sendo dilapidada de três formas: com a privatização de partes dela, como aconteceu com a Copel Telecom, pela abertura de capital na Bolsa de Valores, fazendo com que a direção da empresa atue mais voltada aos interesses de seus acionistas privados, e com o aumento da terceirização, fazendo com que a quantidade de terceiros seja, atualmente, maior do que do quadro próprio.

Aqui, no Paraná, conta o presidente do Senge-PR, Leandro Grassmann, o governo estadual já privatizou a Copel Telecom e quer se desfazer tanto da Compagás, da Usina Hidrelétrica Foz do Areia e da Ferroeste. Para impedir essas vendas, novamente é necessário mobilização política e, principalmente, social. 

“É dentro deste cenário que se repete, passadas duas décadas das privatizações do período do presidente Fernando Henrique Cardoso, que o Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR) e entidades parceiras publicam o livro “A Copel é nossa”, uma obra que marca os 21 anos da luta em defesa da manutenção da Companhia Paranaense de Energia como empresa pública”, compara o presidente. 

Foto: Dalie Felberg/Alep

UM ORGULHO DOS PARANAENSES

A história precisa ser contada e recontada para que se aprenda com ela. Essa é a avaliação do deputado estadual Tadeu Veneri, que é autor do prefácio do livro. “Se a gente não contar nossa história, outros poderão contar de uma forma não real. Os trabalhadores precisam ser protagonistas de sua história”, diz o deputado. 

Na audiência pública, Veneri lembra da CPI da Copel 2003 que ele fez parte, juntamente com o então deputado Ratinho Junior. Mas é justamente ele, agora como governador, que está sendo responsável por entregar a maior empresa paranaense aos interesses do mercado. 

“Quando fui indicado para ser o subrelator na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Copel, que apurou suspeitas de desvios de centenas de milhões de reais. Ao ler o trabalho de Sérgio Inácio, ficam evidentes o quanto foi dura a luta para preservar a Copel e o avanço do processo de destruição da empresanos últimos anos”, escreve o deputado, no livro.

Foto: Dalie Felberg/Alep

Sentimento de perda também compartilhado pelo deputado Requião Filho. “A Copel é uma empresa que pode fomentar a economia, o campo, gerar empregos. Mas a Copel de hoje trabalha para gente de fora do Brasil. Trabalha para os acionistas. Hoje temos uma privatização às sombras”, avalia Requião Filho.

OS ATUAIS DONOS DA COPEL

Tem razão o deputado filho do ex-senador Roberto Requião, que foi um dos três senadores contrários à privatização. Segundo o autor, Sérgio Gomes, os dividendos da Copel estão abastecendo fundos de pensão, principalmente nos EUA e Canadá. “Para ter uma ideia de quem são os poderosos “sócios” da Copel, basta apenas comentar que a BlackRock administra US$10 trilhões pelo mundo afora. Isso representa a metade do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA, de US$ 21 trilhões”, dá a pista o autor.

Foto: Dalie Felberg/Alep

ORGANIZAÇÃO POPULAR

O deputado Professor Lemos propôs a realização da audiência pública 21 anos após a sessão que votou o Projeto de Iniciativa Popular (PLIP) proibindo a venda de estatais sem a participação do povo. A sessão mais longa da história é um marco da participação popular.

“Foi o PLIP que mais recebeu assinaturas na Alep e que tramitava em 15 de agosto de 2021. Foi a sessão mais longa da história, passando de 20 horas, que o livro recupera”, destaca o deputado. Mas que fim levou o PLIP? O autor nos conta:

“Muitos ficarão em dúvida, desconhecem se houve desdobramentos depois daquelas tumultuadas sessões legislativas dos dias 14, 15 e 20 de agosto, em que uma delas foi encerrada num dia, mas foi retomada depois,sob a “proteção” de um exército de 1500 policiais militares, ocasião em que, na intenção de resolver a questão de forma rápida e conclusiva, o PL 248/2001 foi votado e “rejeitado”, por 27 deputados contra e 26 a favor ao projeto de lei de iniciativa popular. Pronto, resolvido.

APOIO DO CREA-PR

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná esteve presente na audiência pública, assim como a Fisenge e outros sindicatos ligados à Copel. O presidente do CREA-PR Ricardo Rocha Oliveira destacou a importância da luta coletiva. Ele ainda lembrou que a Copel é a maior empresa de engenharia do estado. “A história é aquela que a gente escreve. Se não registra, ela passe e até se esquece. E a história é, antes de tudo, um posicionamento político”, enaltece. Posicionamento este adotado pelo Conselho há mais de duas décadas, como resgata o livro.

“Além dos sindicatos e movimentos sociais, é preciso ressaltar o papel de liderança do presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR) da época, o colega Rossafa, que debateu profundamente a questão com todo seu profissionalismo e levou o Conselho Profissional da Engenharia a tomar o posicionamento na defesa da Copel”, anota a obra na página 40.

Foto: Manoel Ramires

O LIVRO

Em oito capítulos, a obra aborda tanto o período quanto duas décadas da maior empresa do Paraná. No primeiro conta a história da Copel e como era a eletricidade no Paraná quando a Copel foi criada. No capítulo seguinte, “Os movimentos sociais: nossa trincheira de lutas”, descreve a luta sob a narrativa dos movimentos sociais. 

O livro “A Copel é nossa” pode ser adquirido por R$ 60. O FRETE É GRÁTIS. O pagamento é feito por PIX e após PREENCHER FORMULÁRIO ABAIXO.

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MAIS PARTICIPANTES

Falaram ainda Alberto Abraão Wagner, advogado  do Movimento do Diálogo Ecumênico; Agenor de Oliveira, diretor e membro do conselho fiscal do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina/RJ); Rosangela Gonçalves de Oliveira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação Básica Técnica e Tecnológica do Estado do Paraná (Sindiedutec/PR); Elaine Santana Silva, diretora de negociações coletivas do Sindicato dos Engenheiros de Sergipe (SENGE/SE);  Mariana Chagas Lima, presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas do Paraná (UPES), Thales Zaboriski, presidente da União Paranaense dos Estudantes (UPE); entre outros convidados presenciais e virtuais dos parlamentares.

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