A greve dos caminhoneiro recoloca no centro do debate nacional o papel da Petrobras na economia e no desenvolvimento do Brasil, e expõem as políticas de gestão adotadas pela empresa, em consonância com o governo federal de Michel Temer (MDB).
A alta dos preços é consequência das escolhas da gestão de Pedro Parente, presidente da Petrobras desde 2016. Entre as medidas decisivas está a mudança na política de definição de preços de derivados de petróleo, em outubro de 2016. Desde então, as refinarias da empresa passaram a praticar os mesmos preços do mercado internacional, com adoção da paridade.
Balizado pelos preços mundiais, o Brasil passou a sofrer diretamente o impacto das tensões mundiais em torno da disputa pelo petróleo. O retorno de sanções dos Estados Unidos ao Irã, a queda na produção de petróleo na Venezuela e o acirramento dos conflitos no Oriente Médio – todos estes grandes produtores de petróleo – trouxeram como consequência a redução da oferta do produto e um aumento de cerca de 23% da cotação do barril em âmbito mundial. Numa reação em cadeia, subiram também os preços dos derivados.
Somado a isso, Parente ainda reduziu a produção nas refinarias e anunciou a venda de quatro delas – inclusive a Refinaria Getúlio Vargas (Repar), localizada em Araucária, Região Metropolitana de Curitiba. São sinais explícitos da abertura da Petrobras à participação de empresas privadas no setor e de capital estrangeiro.
Pedro Parente tem longa experiência em políticas neoliberais. Foi consultor do FMI durante o governo Itamar Franco. Entre 1999 e 2002, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, ele foi secretário executivo do Ministério da Fazenda e ocupou três ministérios (Casa Civil, Planejamento e Minas e Energia). Na época, ficou conhecido como “ministro do apagão”, por ter coordenado a equipe que gerenciou a crise de energia instalada no País, fruto das políticas adotadas por ele mesmo. Agora, na Petrobras, repete a história.
Na ponta desta cadeia produtiva, quem está pagando a conta é população Brasileira. Um levantamento divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra uma alta vertiginosa de preço por parte da Petrobras: nos últimos 30 dias, a empresa fez 16 reajustes no preço da gasolina e do diesel nas refinarias. A gasolina saiu de R$ 1,74 para R$ 2,09 (alta de 20%). O diesel foi de R$ 2,00 a R$ 2,37 (18% a mais). Estes aumentos chegaram aos consumidores ainda maiores. No caso do litro de gasolina, os preços médios nas bombas de combustíveis subiram de R$ 3,40 para R$ 5 (alta de 47%), e de R$ 2,89 para R$ 4 para o litro do óleo diesel (aumento de 38,4%).
Combustível mais caro, em um país que circula mercadorias majoritariamente pela malha rodoviária, tem como consequência impactos no custo de vida da população trabalhadora de maneira geral – aqui chamamos a atenção para a necessidade de que o Estado brasileiro invista em novos modais e na integração dos transportes. Este encarecimento torna-se ainda mais preocupante no contexto de desemprego em alta. De acordo com o IBGE, o índice de desemprego no país chegou a 13,1%, em média, no primeiro trimestre deste ano. No primeiro semestre de 2016, a taxa era de 11,2%.
A Emenda Constitucional 95 (aprovada em 2016), que congela os gastos públicos por 20 anos, a Reforma Trabalhista e outras contrarreformas aplicadas pelo governo federal, em acordo com a maioria do Congresso, também já impõem piora das condições de vida dos brasileiros. A paralisação dos trabalhadores caminhoneiros reflete este cenário de usurpação de direitos e de uma gestão pública que opera em prol de interesses privados.
A descoberta do Pré-sal, durante do segundo mandato do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, coloca o Brasil entre as grandes reservas mundiais de petróleo – fonte de energia que está no centro dos conflitos mundiais. Não há motivos justos ou plausíveis para que a população brasileira pague caro para ter acesso a uma fonte de energia abundante e em plena expansão. Existe tecnologia, estrutura, mão de obra qualificada para a operação eficiente da empresas – e frisamos aqui o importante papel dos engenheiros e engenheiras que atuam em defesa da empresa.
A Petrobras, como empresa pública, deve explorar os recursos naturais do território nacional com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento do país e para a soberania energética brasileira. No entanto, isso não voltará a acontecer enquanto o Estado brasileiro estiver sendo governado sob a influência puramente privada e internacional, à despeito do interesse público, com a imposição de um programa antipopular, não referendado pelo voto.
Nos solidarizamos com a mobilização dos caminhoneiros, e, de antemão, prestamos total apoio à greve anunciada pelo petroleiros de todo o Brasil, com início marcado para esta quarta-feira (30), que tem como pauta central a defesa da Petrobras como empresa pública e pela soberania energética nacional diante do avanço do entreguismo ao capital estrangeiro. Reiteramos, ainda, nossa posição de permanente defesa da democracia brasileira.