Publicado originalmente no site GGN
A venda do controle da Eletrobras certamente será a joia da coroa de todas as negociatas planejadas pelo governo Temer.
Está-se no meio de uma reestruturação radical no setor elétrico, com a substituição do modelo hidrelétrico pelas novas formas de energia. Todas elas têm em comum o fato de serem intermitentes. Por isso mesmo, duas áreas fundamentais são as usinas hidrelétricas, operando como backup do setor; e as linhas de transmissão, interligando todos os pontos. Por isso mesmo, a Eletrobras é estrategicamente essencial para o modelo.
Nos anos 90, a visão de negócios de Fernando Henrique Cardoso promoveu uma desregulação do setor, copiado do modelo inglês, país com características totalmente diversas da brasileira. O resultado foi um salto nas tarifas de energia que tirou totalmente a competitividade de setores eletro intensivos da economia. Um dos grandes trunfos do país, para competir globalmente – a energia barata – foi destruído por essa improvisação.
Agora, se monta o mesmo balcão de negócios em cima de um slogan vazio: a ideia de que a privatização da Eletrobras vai baratear as contas de luz, mesmo argumento utilizado na desregulação do mercado dos anos 90.
No período que antecedeu a queda de Dilma Rousseff, houve imensa movimentação de lobistas de todos os setores, de olhos no balcão de negócios previsível.
A movimentação mais rápida foi em direção à Eletrobras. Antes mesmo de assumir o cargo, ainda na fase interina, Temer editou a Medida Provisória no. 735 viabilizando a venda da empresa. A privatização motivou críticas até da agência Moddy’s.
“O plano do governo de privatizar a Eletrobras é um fator de crédito negativo para a estatal, já que traz incertezas sobre o apoio governamental em momentos de necessidade, disse a agência de classificação de risco Moody\’s nesta terça-feira: “O plano cria também distrações para a administração que podem prejudicar outras iniciativas, incluindo a estratégia de reestruturação da companhia iniciada em novembro passado”, disse a vice-presidente e analista sênior da Moody’s Cristiane Spercel em comentários.
Confira os personagens que foram para lá.
Wilson Ferreira Júnior
Assumiu a presidência da empresa. Ex-funcionário da CESP, assumiu a CPFL na privatização e ficou lá até o final. Foi um grande executivo, mas seu último ato foi vender a empresa para o grupo chinês Stat Grid.
A empresa já é uma das principais investidoras no setor elétrico. Acaba de comprar um prédio no Rio de Janeiro por R$ 200 milhões para sua sede no Brasil, indicando o apetite para grandes negócios no país. Com exceção da diretora jurídica Laura Pinheiro, toda sua diretoria é composta por chineses.
Desde o início, já se viam as cartas marcadas para vender a empresa para os chineses. Um ano atrás Ferreira procurava desmentir, sustentando que só venderiam participações em outros empreendimentos.
José Luiz Alqueres
Foi o mentor de uma das primeiras grandes queimas de ativos nacionais, justamente da Eletrobras.
No governo Itamar Franco, foram resolvidos os problemas do endividamento circular do setor elétrico. Havia boas perspectivas para a Eletrobras. Alqueres assumiu uma diretoria do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e colocou papéis da Eletrobras em um fundo negociando com o mercado. Denunciei a manobra. Ele me procurou, explicou as boas perspectivas da Eletrobras e disse que o fundo visava apenas conferir liquidez ao papel para preparar a ida a mercado.
Tempos depois, houve a venda de parcela expressiva das ações para o Bozzano Simonsen, um escândalo. Definiu-se o preço do papel pela média de 40 pregões, em pleno período inflacionário. Com a média, ganhava-se quase um mês de inflação. Depois, se dava mais 30 dias de prazo para o pagamento. Um lote que deveria valer US$ 2,5 bilhões saiu por uma quantia irrisória.
Denunciei a manobra, Itamar obrigou Alqueres e o então Ministro de Minas e Energia, Paulino Cícero, a darem explicações. Nenhuma parava em pé.
Pouco tempo depois, Alqueres deixou o governo e foi trabalhar para o Bozzano Simonsen.
Elena Landau
Substituiu Alqueres na presidência do Conselho
Figura carimbada, uma das principais operadoras das privatizações de Fernando Henrique Cardoso, atuando junto ao BNDES e aos fundos de pensão, inclusive definindo os títulos que poderiam servir de moeda de privatização. Depois, tornou-se braço direito do controvertidíssimo banqueiro Daniel Dantas.
Elena é advogada e sócia do escritório Sérgio Bermudez.
José Paes Rangel
Representante dos minoritários, é diretor vice-presidente do Banco Clássico,m dos herdeiros do notabilíssimo J.J.Abadala (os mais velhos se lembrarão dele), com participação em empresas do setor elétrico brasileiro, como a Cemig, a Tractbel e a própria Eletrobras.
José Guimarães Monforte
Atuou como executivo em vários bancos e empresas, como Banespa, Banco Merrill Lynch, Banco Citibank NA, VBC Energia S/A e Janos Comércio, Administração e Participações LTDA, ocupando posições no Brasil e no exterior
Monforte passou a integrar o Conselho de Administração da PETROBRAS representando o Fundo Aberdeen e outros investidores internacionais.
A montagem do negócio
Para saber a quem beneficiará essa venda – além das pessoas diretamente envolvidas – basta identificar quem levou operadores notórios de mercado para a Eletrobras. É evidente que a infiltração de notórios operadores no Conselho da empresa não apenas visava prepara-la para a privatização, mas atender às demandas dos grupos que os indicaram para os cargos.
Não se trata apenas de uma queima colossal de ativos públicos. Trata-se do comprometimento de um dos ativos fundamentais para o desenvolvimento brasileiro, que é a energia.
O bravo Ministério Público Federal que ajudou a colocar esses grupos de lobies no poder, junto com a organização criminosa de Michel Temer, tem a responsabilidade de minimizar os danos que estão causando ao país.
E o caso Eletrobras é um dos mais significativos.