Por Jornalista Patrícia Giannini
As discussões referentes à emissão de gases de efeito estufa muitas vezes se concentram apenas no nosso caótico trânsito rodoviário. Mas você sabia que o transporte por navios é responsável por cerca de 80 a 90% do comércio mundial de mercadorias e que, segundo estimativa da Organização Internacional Marítima e do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças de Clima – esse setor de transporte emite mais ou menos de 2 a 3% do total de gás de efeito estufa no mundo? “Essas emissões são altíssimas se pensarmos que equivalem ao que emitem países como a Alemanha e o Brasil, por isso, existe uma grande preocupação mundial em como reduzir essas emissões. A Organização Marítima Internacional traçou uma meta ambiciosa de diminuir em 50% a emissão de gases de efeito estufa até 2050”, diz o engenheiro ambiental Helder Rafael Nocko.
No Brasil, a movimentação em torno do assunto também é grande. A ANTAQ – Agência Nacional de Transportes Aquaviários, em convênio com a GIZ – Agência Alemã de Cooperação Internacional – está realizando um estudo de descarbonização dos portos brasileiros e de preparação dos portos em relação à infraestrutura, produção e exportação de hidrogênio verde.
Por mais que os portos emitam muito menos gás que os navios, eles têm um papel central nesta cadeia de emissão de gases de efeito estufa que se tornou o transporte aquaviário e são peças fundamentais para o almejado trabalho com hidrogênio verde. Por exemplo, quando os navios, não estiverem mais usando motores à diesel e precisarem se abastecer de energia elétrica para suas viagens, os portos terão infraestrutura para atendê-los? “O estudo da ANTAQ já teve algumas fases. A primeira foi uma revisão bibliográfica para entendimento do que existe em nível internacional no que diz respeito às regulamentações. A segunda fase foi uma pesquisa geral onde questionários foram enviados a todos os portos e terminais portuários brasileiros, para entender o grau de maturidade e o que vem sendo feito em termos de descarbonização e de planejamento de infraestrutura para o trabalho com o hidrogênio verde. E a terceira fase, que está acontecendo agora, são os estudos de casos por meio de visitas técnicas em portos e terminais portuários brasileiros. Esse levantamento de questões estruturais e de processos servirão também como base para a elaboração de um guia de boas práticas”, detalha Nocko, que está à frente desta terceira fase do projeto da ANTAQ.
As emissões de gases de efeito estufa pelos portos se dividem em escopo 1, relacionado às emissões diretas; escopo 2, sobre as emissões associadas ao consumo de energia elétrica; e escopo 3, referente a outras emissões indiretas. O escopo 1 engloba, por exemplo, os veículos a diesel que são usados dentro do porto para a movimentação interna de cargas, as emissões poluentes fugitivas de sistemas de geração de ar-condicionado, o tratamento de resíduos sólidos líquidos e as próprias atividades de dragagem.
No escopo 2 se concentram todas as questões do consumo de energia elétrica, seja para equipamentos, iluminação ou máquinas e, no escopo 3, entram os navios, os rebocadores, atividades de caminhões e ferrovias, ou seja, como as cargas chegam aos portos, além de todo o transporte de funcionários, terceiros e demais atividades. “Quando falamos na eficiência operacional que será necessária aos portos e aos navios neste processo de descarbonização estamos falando em modernização de frotas de rebocadores e de navios, processos reavaliados para que as atividades de carregamento e descarregamento ocorram de forma mais rápida, diminuindo o tempo que os navios ficam parados na área do porto e, consequentemente, a emissão de gases, estrutura Onshore Power Supply, ou seja, fornecimento de energia elétrica para os navios para que eles não fiquem ali parados com seus motores movidos a combustível fóssil ligados o tempo inteiro, enfim, são inúmeras ações a serem tomadas e por isso a importância deste estudo para que o Brasil consiga colaborar na meta da Organização Marítima Internacional até 2050”, enumera Helder Nocko.
Segundo o engenheiro, já foram feitas visitas nos portos de Itaquí, no Maranhão, Pecem, no Ceará, Paranaguá, no Paraná, porto de Santos, no litoral de São Paulo, e Açu, no litoral norte do Rio de Janeiro. O resultado do estudo poderá ser acompanhado no site da própria ANTAQ, com previsão de finalização até março de 2025.