Manoel Ramires/Senge-PR
A Copel anunciou o seu lucro líquido no ano passado. A empresa arrecadou R$ 2,2 bilhões. Deste montante, 50% vão para as mãos dos acionistas. Isso equivale a R$ 1,1 bilhão. Se o povo no Paraná ainda fosse dono da maioria das ações, o estado ficaria com R$ 340 milhões relativos aos 31,1% das ações. Agora, para os cofres públicos, a cifra é de R$ 174 milhões. Parte do lucro que cresceu 102,5% é resultado do não pagamento de PIS e Cofins que poderiam ser utilizados em investimentos sociais.
Antes da privatização, o Estado do Paraná detinha 31.1% das ações, sendo seguido de perto pelo BNDESPAR com 24% das ações. Agora, o povo paranaense detém apenas 15,9% enquanto o BNDESPAR detém 22%. Já na Bolsa de Valores, o mercado controla 61,7% das ações, recebendo assim, a maior fatia do lucro bilionário de R$ 1,1 bilhão.
O valor a ser distribuído apenas em 2023 representa mais do que 31% do valor recebido pelo governo paranaense com a privatização da companhia. Em agosto do ano passado, o valor destinado ao Estado atingiu R$ 3,1 bilhões. Já a soma total de R$ 1,1 bilhão de agora poderia custear todos os investimentos feitos com aquele dinheiro da privatização.
Apenas como comparação, de acordo com o “Plano de Aplicação de Recursos da COPEL” do governo, para a educação foram destinados R$ 500 milhões vindos da companhia de energia O estado também afirma ter destinado outros R$ 500 milhões para as cidades tendo como fonte o dinheiro da privatização.
“Esse dinheiro acaba em três anos, já os resultados financeiros poderiam ser uma fonte inesgotável para áreas sociais”, comenta o presidente do Senge-PR, Leandro Grassmann.
Faturamento veio de impostos não recolhidos
Outro dado demonstrando que o negócio foi ruim para o Paraná é o crescimento do lucro líquido. Em 2022, a ainda estatal atingiu a marca de R$ 1,14 bilhão. Praticamente o mesmo valor que está sendo distribuído aos acionistas agora. Já em 2023, o líquido bateu R$ 2,3 bilhões. E existe um pequeno detalhe, o EBITDA (Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) Ajustado é praticamente o mesmo nos últimos dois anos: R$ 5,5 bilhões.
Ou seja, a empresa cortou em algum lugar. Trata-se do pagamento de PIS e Cofins, segundo o relatório, na página 63. “O resultado financeiro apresentou variação positiva de R$ 800,9 milhões, devido principalmente à despesa com atualização da provisão da destinação de créditos de PIS e Cofins no valor de R$ 1 bilhão ocorrida em 2022 e não recorrente em 2023. Também impactaram o acréscimo no rendimento das aplicações financeiras, compensadas pelo aumento de despesa financeira com encargos da dívida”.
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O QUE É PIS E COFINS | O PIS e o Cofins são impostos cobrados sobre a receita de empresas e sobre a remuneração de trabalhadores. Estes tributos têm como objetivo financiar serviços públicos, tais como a Seguridade Social, a saúde, a infraestrutura e a educação.
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Presidente da Copel comemora resultados
O presidente da Copel, Daniel Pimentel, indicado pelo governador Ratinho Junior e mantido com a empresa transformada em corporação, comemorou os resultados bilionários. “O êxito do processo de transformação em corporação esteve alinhado às demais operações da empresa. Alcançamos um EBITDA ajustado de R$ 5,8 bilhões e um lucro líquido de R$ 2,3 bilhões, um crescimento de 102% em relação ao ano anterior”.
Gestão marcada pelo PDV
De acordo com a Copel, em busca da eficiência nos negócios, a “Copel não promoveu novas contratações no último ano e estabeleceu um Programa de Demissão Voluntária – PDV, cujos desligamentos estão previstos para agosto de 2024 e representam uma redução de 1.438 empregados no seu quadro próprio. A Copel possuía 5.959 empregados no quadro próprio em 31.12.2023 e 6.033 em 31.12.2022. Foram admitidos/reintegrados 3 empregados em 2023. Durante o mesmo período, 77 empregados desligaram-se da Companhia. A taxa de rotatividade foi de 0,7% em 2023 e 3,9% em 2022. A empresa fez provisionamento no montante de R$ 610 milhões referente ao Programa de Demissão Voluntária (PDV)”.