Ratinho bate o martelo da privatização da Copel

ESPECIAL | Governador repete o discurso da Telecom de “investir em serviços”, mas deve enriquecer executivos

Foto: Jonathan Campos/AEN
Comunicação
14.AGO.2023

Manoel Ramires/Senge-PR

Guarde esses números: Uma empresa avaliada em R$ 10,8 bilhões que o Governo do Paraná, por meio do governador Ratinho Junior (PSD), abriu mão de metade de suas ações, privatizando a Copel. No último relatório antes da venda, o Estado do Paraná detinha 31.1% das ações, sendo seguido de perto pelo BNDESPAR com 24% das ações. Agora, o povo paranaense detém apenas 15,6%, em uma operação que gerou apenas  R$ 2,6 bilhões aos cofres públicos, mas com o lote suplementar o valor destinado ao Estado atinge R$ 3,1 bilhões. Como comparação, a Copel lucrou R$ 5,5 bilhões em 2022, ficando nada menos que R$ 1,77 bilhões em apenas um ano para os cofres públicos. 

Ainda é incerto saber quem será o novo proprietário da Copel. Se o BNDESPAR será o maior acionista ou se algum outro grupo deterá a maioria das ações. Aos poucos, em fatos relevantes, a empresa de energia revela quem são seus novos donos. É o caso do Radar que adquiriu 85.163.700 ações da empresa, o que equivale a cerca de 5,07% das ações preferenciais de emissão da companhia, e pertence aos empresários Jorge Paulo Lemann e seus sócios, igualmente bilionários, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira que quebraram “As americanas”, em um escândalo fiscal.

DE “INVENDÁVEL” A MINDSET COMPLETAMENTE PRIVADO

O governador Ratinho Junior que hoje bateu novamente o martelo da privatização não é a mesma pessoa que em 2019 e em 2022 disse que a Copel jamais seria vendida por ser uma empresa estratégica e de importância social. Lá atrás, em campanha,fez “um compromisso. A Copel vai continuar dos paranaenses e tocada pelos nossos copelianos, pela equipe técnica da Copel. Eu faço um compromisso, nós vamos fortalecer a Copel”.

Agora, na B3, disse que vai modernizar uma empresa que não tem mais controle decisório. “Nós damos um passo gigante para fazer da Copel uma das maiores empresas do Brasil. Hoje a Copel já é a maior empresa do Paraná e a partir de agora, com essa modernização, estamos tirando ela das amarras burocráticas, acabamos com as indicações políticas, e ela passa a ser uma empresa que vai ter condições de, nos próximos anos, se tornar uma das três maiores empresas de energia do País”, afirmou o governador que indicou para CEO da empresa Daniel Pimentel Slaviero, neto do ex-governador Paulo Pimentel e irmão do vice-prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel.

Foto: Jonathan Campos/AEN

PRIVATIZADA, COPEL DEVE ENGORDAR SALÁRIOS DE EXECUTIVOS

Ao mercado financeiro, o governador afirmou que o setor público não paga bem os executivos, coisa que o setor privado pode fazer. A frase ocorreu após desgaste dele e de seus indicados que receberam bônus milionários à frente da companhia. Indicados de Ratinho faturam R$ 25 milhões na Copel. Em apenas três anos (2020 a 2022), o salário dos diretores somados passou dos R$ 25 milhões. Apenas o maior salário, do CEO da Copel, Daniel Pimentel Slaviero, bateu em R$ 879,2 mil anuais.

Já o presidente da Copel, Daniel Pimentel, destacou que o questionado modelo de venda da Eletrobras foi referência para a privatização da companhia paranaense. “Sabiamos que esse processo servirá de referência para outras empresas estaduais que quiserem seguir o mesmo caminho, assim como a Eletrobrás foi uma grande referência e inspiração”, disse o presidente. 

Após ser privatizada, os salários de executivos da Eletrobras aumentou em 3576%. Apenas o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior, coletou um aumento salarial de R$ 52.300 para R$ 300 mil por mês. A empresa ainda reservou R$ 88,1 milhões, equivalente a oito vezes o total pago pela Eletrobras aos funcionários antes de privatizada, para pagar os salários da diretoria em 2023. Aumento de oito vezes.

Foto: Jonathan Campos/AEN

INVESTIMENTO NO PASSADO VIROU DIVIDENDOS

O governo diz que os recursos arrecadados vão ajudar a financiar uma série de programas do Estado, com investimentos nas áreas de habitação, educação, infraestrutura, meio ambiente e pavimentação. Segundo a gestão estadual, a maior parte do recurso será aplicado em obras de infraestrutura ao redor do Estado. A previsão é destinar R$ 1,4 bilhão para dar continuidade ao cronograma do Banco de Projetos.

Promessa semelhante havia sido feita em 2021, quando Ratinho Junior e o presidente da Copel, Daniel Pimentel, venderam a Copel Telecom. À época, o discurso era de que o dinheiro seria investido no estado e em obras. No entanto, dos R$ 5 bilhões de lucro, cerca de R$ 3 bilhões foram parar no bolso dos acionistas por conta do “excesso de liquidez”. “Pelo segundo ano consecutivo também tivemos a proposição de distribuição de dividendos robustos, o equivalente a 65% do lucro líquido ajustado, a ser apreciado pela Assembleia Geral Ordinária, conforme dispõe a nossa política de dividendos”, disse o presidente Daniel Pimentel para justificar a ida do resultado da Copel Telecom para os acionistas.

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