Curitiba adota bicicletas e rotas para “turistas verem”

Instalações não são acompanhadas de alternativas para trabalhadores

Prefeitura de Curitiba não disponibiliza segurança e equipamentos para bicicletas
Comunicação
01.AGO.2023

Manoel Ramires/Senge-PR

O Prefeito de Curitiba Rafael Greca tem comemorado o retorno dos pontos específicos para alugar bicicletas. Para o prefeito, o modelo de bicicleta compartilhada é o modelo escolhido pela capital paranaense para estimular a ciclomobilidade como modal de transporte. No entanto, as vias públicas ocupadas por um serviço terceirizado não oferecem a opção do trabalhador de estacionar sua própria bicicleta com segurança e sinalização adequada.

Um exemplo claro do serviço criado para “turistas verem” é a oferta da bicicleta compartilhada na Marechal Deodoro, em frente ao Shopping Itália. O estacionamento rotativo do local deu lugar à “bicicleta compartilhada”. Por outro lado, não é oferecida nenhuma opção para os trabalhadores que resolvem vir para o centro com suas “próprias bikes”. A solução é dar “um jeitinho”, pretendo a “magrela” em postes de sinalização.

O prefeito Rafael Greca comemorou o serviço restrito a quem pode pagar. “A ideia é colocar bicicletas compartilhadas para estimular a ciclomobilidade como modal de transporte, com estações próximas aos terminais e na área central da cidade. Até o final de agosto, outras 250 bicicletas elétricas entrarão em operação”, disse no lançamento.

Para o arquiteto e especialista em mobilidade, Ricardo Tempel Mesquita, o projeto implementado atende apenas aos interesses do prefeito e com vistas ao financeiro e à purpurina. “Esta situação não  é apenas um desrespeito pelo ciclista, mas principalmente pelas pessoas cegas ou com baixa visão que, além de não terem as Rotas Acessíveis com piso tátil direcional e de alerta, se deparam com inúmeras armadilhas como mercadorias, canos, bikes, patinetes largados de qualquer maneira”, compara.

Da mesma forma, também é considerada crítica algumas das novas ciclorrotas lançadas pela Prefeitura de Curitiba. Segundo o prefeito, “nós estamos fortalecendo ainda mais a segurança dos ciclistas com a implantação das ciclorrotas no coração do centro da cidade. Estes círculos brancos e o icônico pictograma vermelho de bicicleta, significam rotas compartilhadas, que simbolizam a harmonia entre veículos e ciclistas”.

Visão não compartilhada por ciclistas. Na página do prefeito no Instagram, um internauta contextualizou os riscos. “O simples fato de se ter uma marcação em uma via que nitidamente era exclusiva para veículo e agora ela tem que ser compartilhada com bicicletas. A meu ver acaba mascarando números de quantidade de kms de ciclovias e ciclorrotas fazendo com que Curitiba”, disse.

Usuários amarram bicicletas em poste de sinalização enquanto bikes privadas ocupam o espaço público

Na avaliação do mestre em Planejamento Urbano pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luiz Calhau, tanto as bicicletas compartilhadas quanto as novas ciclorrotas não atendem os curitibanos que usam a bicicleta em seu dia a dia e são medidas mais performáticas que efetivas para estimular o modal ativo na cidade.

“Curitiba tem um Plano Estratégico Cicloviário que foi feito em 2019 e que não é seguido. Se perde a oportunidade de realizar mudanças que favoreçam quem pega a bicicleta para ir trabalhar e estudar em toda a cidade. Em vez de paraciclos e ciclovias para a população, Curitiba parece priorizar as estações de bike e as ciclorrotas para os turistas. Muito marketing e pouca política pública.”

FEIRA APRESENTA FALHAS E SOLUÇÕES EM MOBILIDADE

A falta de  diálogo e busca por soluções viáveis de mobilidade é tema do “MUS: A Feira de Mobilidade Urbana Sustentável”, que ocorre entre 20 e 23 de setembro. O evento reunirá ativistas, estudantes, especialistas, inovadores, organizações populares, entusiastas e curiosos da mobilidade urbana em um ambiente dinâmico e inspirador.

“Será uma oportunidade única para trocar conhecimentos, compartilhar ideias e criar soluções. Queremos proporcionar uma plataforma onde as pessoas possam se conectar, colaborar e impulsionar a mobilidade sustentável rumo a um futuro mais justo e menos desigual”, dizem os organizadores.

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