Sérgio Inácio Gomes (*)
Enquanto escritor do livro documentário intitulado “A Copel é Nossa”, o qual foi lançado no dia 15 de agosto numa audiência pública na Assembleia Legislativa do Paraná, me preocupa muito o rumo sinalizado pelo governador Ratinho Junior (PSD), exatamente no dia seguinte ao da realização do segundo turno das eleições, bem exatamente, no dia 31 de outubro do corrente ano.
Do que se trata minha preocupação:
Você já assistiu um daqueles filmes de ficção em que personagens de um livro ganham vida e se voltam contra a comunidade causando pânico, inclusive contra o autor do livro, que passa a ter dificuldades em detê-los? Pois é assim que eu me sinto, ao me deparar com o anúncio do governador Ratinho Junior ao publicar a intenção de vender ações da Copel e retomar as privatizações exatamente no dia seguinte ao segundo turno das eleições (31/10). Pior, dois meses depois de eu ter lançado o livro documentário no qual retrato os personagens os quais vencemos há exatos 21 anos passados.
No dia 31 de outubro, exatamente o “dia seguinte” ao da realização do segundo turno das eleições, a Copel comunicou aos seus acionistas (e ao “mercado”), através do, assim intitulado “Fato Relevante 04/22”, que recebeu do Governador do Estado, que é o acionista controlador da Companhia, através do Ofício nº 3068/22 no qual o Chefe da Casa Civil em exercício, Sr. Luciano Borges dos Santos, o qual informa à Companhia de que o mesmo solicitou ao Conselho de Controle das Empresas Estaduais – CCEE, por meio do protocolo nº 19.665.765-7, revestida por um linguajar com retórica técnica, mas que significa no linguajar que todos entendem, de que pretende vender ações da Copel.
Num linguajar mais compreensível ainda, esse “Fato Relevante” significa a indicação do rumo que a gestão estadual reeleita pretende seguir, qual seja, o da venda de patrimônios públicos, a iniciar pela Copel. Essa foi a indicação do efeito: “dia seguinte”, após receber a “autorização” proveniente das urnas:
-“Vamos vender a Copel”, intenção essa que nos remete ao período 1998/2001, quando a venda da Copel foi determinada pelo então Governador Jaime Lerner. Determinação essa que não foi cumprida porque o povo paranaense não aceitou passivamente o desejo do Governador daquela época, povo esse que, “ainda se julgam”, os legítimos proprietários do maior patrimônio público construído por esse mesmo povo, que é a COPEL.
Não tenhamos pânico, afinal já os vencemos em 2001, logo teremos que ter coragem e determinação para vencê-los novamente em 2022 (ou 2023).
Porém, o sentimento de pânico de nosso povo deve ser substituído pelo sentimento de indignação. Afinal de contas, “A Copel é Nossa”, ou pelo menos deveria ser, pois ela foi construída pelo povo do Paraná que a iniciou em 1954, quando foi criada pelo Governador Bento Munhoz da Rocha Neto, quem tinha um grande propósito que era qual mesmo:
– “Prover o Estado do Paraná com um bom sistema de suprimento de energia, que é uma condição de infraestrutura básica capaz de garantir o desenvolvimento social e econômico do Estado”. Ora, esse propósito nunca deveria ter sido abandonado por qualquer governo comprometido com o povo para o qual governa. É uma condição tão necessária nos dias de hoje, tanto quanto foi há 70 anos atrás, quando a empresa foi construída pelo desejo dos paranaenses.
Setor Estratégico
O setor energético brasileiro, assim como de todas as empresas públicas e economia mista em que o Estado ou a União detém poder majoritário passaram a ser vistas como empresas que tem um único e exclusivo propósito, que oferecer lucro, rentabilidade e distribuição de dividendos aos seus acionistas ao invés de serviços públicos para seu povo.
Empresas estatais já não são mais vistas sob a ótica desenvolvimentista que requer condições de infraestrutura necessárias e adequadas para o crescimento e a competitividade industrial, mas sim, passou a ser vista com uma finalidade mercantilista, num mercado de ações em bolsas de valores, que mais se parecem com “casas de caça-níqueis” para promover o improdutivo “investimento especulativo”, muito mais do que espaços adequados para prover o investimento produtivo e de desenvolvimento.
No meu livro documentário, ao longo de 256 páginas, eu faço um amplo resgate e reflexões sobre os efeitos e consequências nefastas resultantes das privatizações do setor energético, principalmente do setor elétrico brasileiro, dentro de uma geopolítica energética mundial que pautou as privatizações como política para o nosso país e, não temos coragem para revertê-la.
Porém, a campanha contra a privatização da Copel foi uma grande vitória do povo do Paraná no contexto das privatizações que trouxeram trágicas consequências ao setor elétrico, que são inclusive desconhecidas pelo povo brasileiro como um todo. Só para citar um exemplo desta mesma semana em que escrevo este artigo: A Distribuidora de energia do Amazonas foi privatizada em 2018, não deu lucro e agora, 2022, está a venda de novo. Ou seja, um pequeno exemplo daquilo que com uma infinidade de outros exemplos eu mostrei no meu livro: -O objetivo único das empresas de energia é o lucro e não o da prestação de um serviço público de qualidade.
Que tenhamos coragem novamente para nos reorganizar enquanto povo que não aceita a entrega de seu patrimônio público para servir apenas como objeto de especulação financeira, mas que possamos resgatar esse patrimônio que foi construído pelo povo do Paraná.
Não à privatização da Copel. Fico a disposição a quem desejar acessar, conhecer, refletir e divulgar meu livro documentário, cujo propósito maior é o da formação de cidadania ativa, tão necessária quanto urgente para ser resgatada entre nós, principalmente aos jovens estudantes, que desejam conhecer um importante capítulo de nossa história.
(*) Professor de Engenharia Elétrica do Campus Paranavaí do IFPR, Engenheiro eletricista, Doutor em Eng. Química, Diretor sindical do SENGE/PR e do SINDIEDUTEC.