Despertai, Mulheres!

Ativista do movimento feminista faz uma reflexão sobre o voto feminino

4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada em Brasília, em maio de 2016. Foto: ONU Mulheres/Bruno Spada
Comunicação
04.AGO.2022

Nos anos 1920 e 1930, no auge da luta das mulheres pelo direito ao voto, a imprensa atacava as feministas, de forma jocosa e feroz. Charges e textos exaltando o feminino como valor e o perigo das mulheres votarem e terem o poder de decisão eram constantes. As mulheres conquistaram o direito ao voto, em 1932 e depois em 1946, de forma ampla e não trocaram a “lingerie pelo casacão masculino” como temiam alguns homens. A partir da abertura democrática, novas leis surgiram, tais como lei de incentivo às mulheres na política, de proteção social, combate à violência, entre outras.

Entretanto, a partir das eleições 2018, algo mudou no país de forma que, em muitas situações, parece que se voltou no tempo, para os anos 1970 ou pior, 1920. A mudança, principalmente com relação às mulheres, negros, indígenas e LGBTQIA+, mostrou uma face machista, misógina, racista e homofóbica que se escondia pelos subterrâneos brasileiros. Junte a isso as barbaridades ditas pelo presidente da república, incentivando o ódio e o armamento da população. No entanto, as barbaridades não param por aí, pois extrapolam as falas e entram na seara governamental, onde revelam o que realmente deseja o governo, restringindo os direitos a uma vida digna.

Não se enganem, o armamento interessa aos grandes fabricantes de armas e aos criminosos. Segundo dados da Segurança Pública, os maiores alvos têm sido as mulheres e os negros. Indo mais além, o ataque aos indígenas e quilombolas tem como alvo a invasão de suas terras, como tem ocorrido pela busca de ouro e outras pedras preciosas, a devastação da floresta para a pecuária e a monocultura. Ali, atacam mulheres indígenas de todas as idades, estuprando-as e matando-as.

Especificamente no tocante às mulheres, a situação se dá tanto pelas falas do presidente, como por ações de governo. As falas machistas e misóginas do presidente da república ocorrem a todo instante. Mas não é de agora. Quando deputado ele soltou os inconvenientes “comia gente” (com dinheiro público),“tive quatro filhos, no quinto deu uma fraquejada e veio mulher”, “não contrataria mulher porque ela engravida” e a absurdamente machista, asquerosa e misógina “você não merece ser estuprada porque é muito feia”, dita à uma deputada federal. O que ele quis dizer com esses exemplos, encontrados fartamente em jornais, é que as mulheres não são importantes e devem ser tratadas como seres desqualificados. Se ele trata a filha como uma fraquejada e as aliadas tirando-as da primeira fila, mesmo que sejam de primeiro escalão, imagine o que ele não faz com as adversárias políticas.

Não se enganem mulheres, estas falas acompanham ações governamentais – ou a falta delas.

A redução do orçamento federal do combate à violência contra a mulher, a não realização de 63% do orçamento das políticas públicas para as mulheres, o ataque ao aborto legal por estupro, o incentivo ao armamento e a tentativa de retirada de direitos das grávidas são a expressão do machismo e do ódio às mulheres propagada pelo governo.

Não é à toa que os casos de assédio e importunação sexual aumentaram no ano de 2021. Não é por caso que aumentaram os casos de feminicídio. O incentivo vem de autoridades que influenciam alguns homens que passam a pensar e agir como eles, inclusive com a omissão ou apoio de certos religiosos e políticos que usam o nome de Deus em vão, ignorando as atrocidades cometidas contra as mulheres e demais alvos de ataques do governo.

Mulheres, pensem e reflitam a respeito.

Despertai, Mulheres! O que um governante fala, é transformado em ações e no caso atual, retiram os direitos das mulheres conquistados ao longo do tempo.

Despertai, mulheres! Não permitamos que nos tratem como acontecia em 1920. O mundo mudou, nós evoluímos. Merecemos respeito e políticas públicas que nos deem qualidade de vida.  Certamente, um governo que odeia e desrespeita as mulheres não nos interessa!

* Tania Tait é professora aposentada da Universidade Estadual de Maringá (UEM), doutora em engenharia de produção com pós-doutorado em História das Mulheres, escritora, autora do livro “As Mulheres na Luta Política” e uma das fundadoras da ong Maria do Ingá – Direitos da Mulher e do Fórum Maringaense de Mulheres.

Artigo publicado originalmente em taniatait.com.br

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