Por Manoel Ramires/Senge-PR
Comecemos pelo fim: “Entendo que as minhas principais batalhas são as que estão acontecendo e as que ainda virão”. Este é o pensamento do Engenheiro Eletricista, Gilson Branco Garcia. Ele é Diretor Regional do Senge-PR em Foz do Iguaçu e acaba de se aposentar, tendo como último empregador a Itaipu Binacional. Mas, para ele, o fim é apenas um começo: “Minhas relações sindicais permanecem inalteradas”, pontua ele, afirmando que a “força que me mantém na batalha não é a juventude. Os cabelos brancos orientam as minhas ações, junto com a minha visão de mundo”. Neste perfil para o Senge Play Entrevista, Gilson conta sobre suas experiências profissionais e no sindicalismo. Um depoimento marcante para quem está nas trincheiras e para que se entenda a importância da luta sindical.
Senge-PR: Por quantos anos você trabalhou em Itaipu e ele foi seu único empregador?
Gilson Garcia: Quando eu cheguei em Itaipu, eu já era veterano. Estava às vésperas de completar 49 anos. Permaneci lá por 15 anos e meio. Foi ali meu último emprego. Não o meu primeiro emprego. Eu já tinha trabalhado em outras grandes instituições como a Copel, a Volvo, e já tinha tido uma série de experiências laborais e profissionais com outras instituições. Eu até tentei meu negócio próprio, mas eu não tenho dom empresarial.
Senge-PR: Ao se aposentar da Itaipu, como engenheiro, qual é a sensação que fica?
Gilson Garcia: Foram 42 anos de atividade profissional. Em tudo o que eu faço, eu procuro realizar o melhor que posso, ciente das minhas limitações e habilidades. Eu tenho a sensação de dever cumprido.
OUÇA PORQUE GILSON SE SENTE VITORIOSO:
Senge-PR: É um adeus da Itaipu ou um até breve? Você segue tendo relação com a empresa via Senge-PR. O que você acredita que muda nessa relação?
Gilson Garcia: Há que se distinguir duas relações que eu tenho com Itaipu. A primeira como empregado. Essa relação direta agora terminou. E a segunda como dirigente sindical. De toda forma, as minhas relações com Itaipu são permanentes. Eu continuo recebendo benefício do Plano de Saúde. Recebo também a complementação da aposentadoria pela Fundação Itaipu, a Fibra, para qual contribui ao longo desses anos.
Minhas relações sindicais permanecem inalteradas. A mudança é de que enquanto estamos frequentando o ambiente de trabalho, respiramos o ar ar do ambiente, temos contato com os colegas e percebemos, nas conversas, na roda do cafézinho, o ritmo e a respiração, a adjetivação das expressões faciais que expressam sentimentos verdadeiros de expectativas, anseios. Isso hoje é compensado pela impecável atuação de companheiros do Senge que permanecem na ativa. São dedicados, competentes e comprometidos. Eles são os sensores do sindicato no cotidiano interno da empresa.
Senge-PR: Como o Gilson da Itaipu se tornou o Gilson do sindicato?
Gilson Garcia: O Gilson da Itaipu é um fato recente. Coisas de 10, 11 anos de atuação. O Gilson do sindicato está em formação desde sempre.
OUÇA A TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO SINDICAL DE GILSON GARCIA:
Senge-PR: Nessa trajetória, qual você considera o pior momento e o melhor momento da Itaipu com o sindicato?
Gilson Garcia: Eu creio que em 2020 acontece a minha participação mais intensa nas atividades sindicais em Itaipu. Foi quando ocorreu o pior e o melhor momento das atividades sindicais.
O pior momento foi durante a campanha de renovação do Acordo Coletivo de Trabalho. Foi constituída uma mesa de negociações que foi profanada. Depois de mais de 30 anos de construções, com ganhos e perdas, mas evoluindo. A proposta inegociável que Itaipu nos oferecia para a renovação era uma arrasadora perda de direitos, benefícios e conquistas históricas. Foi criado um ambiente de terror, de ameaças. Aconteciam reuniões da diretoria, fake news, áudios, lives, que nós nunca havíamos visto.
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Mesmo assim, os companheiros do Senge, dos demais sindicatos, travaram uma batalha épica, digna do sindicalismo autêntico. Na primeira assembleia por videoconferência, por conta da pandemia, embora sobre a covarde truculência que a empresa oferecia, nós conseguimos derrotar a proposta. A partir daí os ataques passaram a ser intensificados por Itaipu.
OUÇA ESSA HISTÓRIA, A CONQUISTA DA AÇÃO SOBRE O ADICIONAL DE PERICULOSIDADE E O MAIOR ACORDO DE TRABALHO DE ITAIPU:
Senge-PR: Você se aposenta da empresa, mas não da luta. Se sente um jovem para as próximas batalhas e quais são elas?
Gilson Garcia: Eu lembro daquele jargão de que juventude é um estado de espírito. Eu vejo com reserva isso. Eu prefiro a visão pragmática do materialismo. A força que me mantém na batalha não é a juventude. Eu deixo a ação mais vigorosa para os mais jovens. Os cabelos brancos orientam as minhas ações, junto com a minha visão de mundo, meus ideais, a consciência de que posso somar forças como agente de transformação, lutando para novas conquistas.
A resistência de manter aquilo que já conquistamos e a construção de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno. Essa é a força que não envelhece, a chama interna. Acontecerá o momento em que meu vigor não será suficiente. Eu espero ter a lucidez de reconhecer esse momento e entender que é hora de parar. Mas ele não é agora. Por isso, entendo que as minhas principais batalhas são as que estão acontecendo e as que ainda virão. Enquanto eu puder participar, junto com companheiros e companheiras, que dignificam a honrosa função social do sindicalismo. A luta continua.
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