No começo de setembro deste ano, a cidade de Madri, na Espanha, alterou o limite de velocidade dos veículos, reduzindo consideravelmente o limite permitido. A redução cai, em muitos pontos, para até 30 km/h e não passa de 20 km/h em locais próximos a escolas, por exemplo. Aliás, essa velocidade máxima é a mesma permitida para os ciclistas que devem manter distância mínima de um metro e meio para pedestres e fachadas de prédios. Por outro lado, algo impensável em boa parte do Brasil, em especial em Curitiba, as bicicletas, que pertencem ao grupo VPM (Veículos de Mobilidade Pessoal), compartilham vias com carros. Em muitos locais a sinalização por aqui seria considerada perigosa. Neste artigo, no entanto, o engenheiro civil Roberto Ghidini, formado pela UFPR em 1982 e radicado na Espanha, analisa a mobilidade em Madri e o uso indevido de espaços destinados a pedestres.
::. Leia: Madrid muda os limites de velocidade: estes são os novos
Segundo o especialista, a busca por uma cidade sustentável deve priorizar o pedestre e se recuperar walkability nele, melhorando as relações entre os cidadãos e as ruas e seus bairros. Isso coloca frente a frente um outro problema. “Deve-se considerar que esses equipamentos (os bicicleta, patinetes, skates ou patins, segways etc.), mesmo com sua baixa massa e velocidades bem abaixo do de carros, eles não deixam de ser “veículos” e no que são, não deveriam circular nas calçadas que, em tese, são áreas de uso de pedestres”, avalia.
Segundo o estudo “Patinetes y bicis en las aceras de Madrid”, é necessário se propor algumas medidas e ideias para discutir a legislação e o uso desses equipamentos de mobilidade que assumem no hoje, para tratar de questões de viagens sustentável na tentativa de minimizar o uso de meios poluentes e energia de fontes de combustível fóssil, dentro na perspectiva da redução das mudanças climáticas e dos ODS. Na pesquisa de campo, Ghidini compara a organização de diversas calles em Madri e como o espaço é dividido/compartilhado por pedestres, VPM (Veículos de Mobilidade Pessoal), veículos e transporte público.
“É adequado deixar claro que não se destina a reforçar “Indesejável” o uso de tal VMP, mas é preciso criar condições para que não circulem por áreas de pedestres, como calçadas das ruas. A primeira coisa a dizer é que muitos usuários VMP (mais de 14%) usam mal as calçadas para suas viagens, criando com isso um uso conflituoso com o pedestre, independentemente de a velocidade de seus movimentos (em nosso estudo nos limitamos a contar e não colocar velocidades de circulação do mesmo)”, esclarece.
Manter distância para todos
Um dos destaques da nova legislação em Madri é justamente a distância que as bicicletas devem manter dos pedestres e dos edifícios: 1,5 metros. Para o especialista, o entendimento se adequa às regras que distanciam os veículos dos VMP. “Achei, bastante interessante na proposta, que as bicis devam respeitar 1,5 m de afastamento dos pedestres (atualmente 1,0 m), pois da mesma maneira que o carro deve guardar 1,5 m da bici (massas e velocidades distintas), também ocorre entre estas e os pedestres”, acentua.
Distância e respeito esses não vistos em Curitiba, em muitos casos. Pode-se observar que nas recém criada infra cicloviária na Rua Pe Anchieta, depois do Terminal do Campina do Siqueira, a distância mínima não é respeitada. As fotos do Ciclo Iguaçu mostram uma série de irregularidades promovidas pelo poder público que colocam em risco a segurança dos ciclistas.
Caminhar e se comunicar
Ghidini recorda que as calçadas respondem principalmente e principalmente às pessoas que estão caminhando a pé. Mas não se deve esquecer que eles também servem como meio de comunicação para veículos motorizados entre estradas e propriedades que fazem fronteira com os vaus de acesso a edifícios.
Por fim, antes da alteração das leis em Madri, o especialista julgava que “se nossa amostra pode ser considerada significativa no universo das ruas analisadas, prestes a validar o experimento, pode-se afirmar que, a fim de reduzir ou erradicar o uso indevido de os VMPs nas calçadas, a solução é implantar ciclovias segregadas para uso exclusivo de VMPs, bem como pistas de 30 km compatíveis com bicicletas para uso automóvel e VPM nas estradas”, direciona.
Confira o estudo