Por Manoel Ramires
O Senge-PR realizou uma palestra com o tema “Pandemia e Economia”, ministrada pelo historiador e professor Thomas de Toledo, do Centro de Estudos Sindicais. O doutorando em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP) e mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/Unicamp) discutiu os efeitos da pandemia nas relações trabalhistas e de como a tecnologia já contaminava os trabalhadores bem antes do Covid-19. O evento aconteceu por videoconferência e contou com a participação de pelo menos 50 pessoas.
Para Thomas, a revolução digital e a agenda ultraliberal já vinham contaminando as relações trabalhistas com a perda de direitos e até de identidade dos trabalhadores e trabalhadores. O indivíduo não se reconhece como enquanto classe. A pandemia apenas acelerou e abriu novos caminhos para que isso continue, o que, na avaliação dele, precisa ser urgentemente enfrentado.
Tecnologia que aproxima afastando
Segundo o especialista, a revolução da internet mudou a forma como as pessoas passaram a interagir em sociedade. As plataformas digitais como Youtube, Facebook, Whatsapp fizeram com que as pessoas ganhassem projeção e se tornassem produtoras de conteúdos. Essa mudança caminhou com o avanço da tecnologia dos smartphones, fazendo as pessoas deixassem de usar os computadores. “As pessoas passam a estar conectadas o tempo todo”. A partir disso, as estratégias são desenvolvidas com base ao direcionamento individual.
Ele alertou que essa tecnologia toda ainda invade a privacidade das pessoas sem precisar arrombar a porta. “O aplicativo do Facebook ‘rouba’ todas as suas informações. Com quem você fala, os assuntos que você aborda, onde você vai. Eu recomendo que desinstale o aplicativo do celular”, sugere o especialista.
Massa descartável
O professor trouxe um pouco da teoria econômica para se encaixar no cenário atual. Segundo ele, para o neoliberalismo funcionar, você tem que ter pelo menos 10% da massa trabalhadora desempregada. Isso serve como um elemento de pressão com uma demanda maior do que a oferta, o que cria um “desestímulo” para que os empregados não busquem condições de vida melhores com medo de perder o emprego.
Neste cenário, os trabalhadores perdem a identidade e ainda aceitam a precarização de suas vidas. “Vivemos a era da uberização, em que os trabalhadores não tem direito nenhum. É como funcionava nas minas de carvão da Inglaterra de antigamente. As pessoas eram contratadas por dia. A uberização é a prestação de serviço por demanda e sem nenhum vínculo”, associa.
Riscos no horizonte
Muito longe de trazer uma revolta popular, a tendência tem se mostrado que a pandemia acelerou a tecnologia no cotidiano dos trabalhadores com desvantagens para eles. “Hoje, estamos no processo de virtualização do mundo. É um rumo sem volta. Veja o caso da educação. No ano que vem, as escolas e universidades vão adotar de vez a teleaula”, projeta.
“O que vai acontecer depois da pandemia? Já estava acontecendo, mas em um ritmo menor. A pandemia acelerou os processos de home office, a redução de custos físicos e encontros presenciais. Mas você tem ganhos e perdas nos dois lados. O problema é que vivemos um contexto de ultraliberalismo e de um governo fascista. Estamos desprotegidos porque os sindicatos estão enfraquecidos e pode aumentar com a carteira de trabalho verde a amarela”, analisa o mestre em Desenvolvimento Econômico, que completa a transformação da entidade trabalhista: “agora todo mundo é empreendedor. Isso é mal uso do termo. Dizer que o proletário que tá procurando emprego é empreendedor porque não tem vínculo é maldade”.
Transformações sindicais
É necessário entender que o mundo vive o período da “Economia on demand”, que se dá em função da demanda. Não é mais em escala industrial como de carros ou produtos em massa. Neste sentido, cada categoria vai ter um desafio. Daqui a pouco as entidades vão se deparar com o termo “share”, dizendo que os trabalhadores são parceiros e não funcionários. É um cenário muito próximo de quem está em home office.
“O trabalhador foi para prateleira. Ele é moeda barata”. “Ele não tem mais direito a estar desconectado”, acrescenta Leandro Grassmann, presidente do Senge-PR.
Sindicato e atuação digital
A avaliação do público presente na videoconferência é de que é necessário construir redes de temas comuns, investir em Big Data para aumentar e customizar a relação com a base, regulamentar e disciplinar as redes sociais, controlar/Fiscalizar as transformações do mundo do trabalho, definir princípios Morais e Éticos das redes em relação ao uso político dela. As entidades ainda precisam buscar legislação que garanta instrumentos digitais para atividade sindical como reuniões e assembleias validadas.