O atraso no anúncio do balanço do lucro líquido anual recorde, dos últimos 20 anos, da Eletrobras , de R$ 13,3 bilhões, causou estranhamento junto aos trabalhadores da estatal.
A divulgação do balanço, que deveria ter sido feita há quase uma semana, de acordo com o cronograma da empresa, evitou com que o ministro das Minas e Energia Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, falasse sobre o lucro recorde da estatal, durante a sabatina a que foi submetido na quarta-feira (27), na Comissão de Minas e Energia, da Câmara Federal, ao dar respostas dúbias em relação à privatização da estatal.
O engenheiro da Eletronorte e dirigente do Sindicato dos Urbanitários no Distrito Federal (STIU-SF), Ikaro Chaves, diz que a falta do balanço impediu que os trabalhadores e trabalhadoras da empresa e os deputados pudessem questionar com argumentos ainda mais concretos, o desmonte que a estatal vem passando e a resposta do ministro sobre a orientação que teria recebido do governo em relação à Eletrobras.
Albuquerque disse que não recebeu recomendação “de privatizar a empresa, tampouco de não privatizar a empresa e que o governo deverá adotar uma posição em relação a esse tema”, mas teria prometido apresentar os estudos com o modelo de capitalização da Eletrobras.
Ikaro critica essa posição, pois deixa os trabalhadores inseguros em relação ao futuro de seus empregos e da própria empresa. Além disso, segundo ele, os setores que defendem a privatização alegam que somente com a venda da Eletrobras é que ela receberia investimentos necessários ao setor energético do país.
O engenheiro conta que hoje não há nenhuma regra ou impedimento legal para que a iniciativa privada invista em empresas de energia.
“Se a iniciativa privada quisesse investir já teria investido. Os empresários brasileiros e de outros países estão aguardando o governo Bolsonaro definir o processo de privatização para obter mais ganhos. Ter maior barganha na hora da compra. O país perde dinheiro e a população vai pagar a conta de uma energia mais cara”.
Ikaro Chaves conta ainda que o ministro das Minas e Energia, disse na sua sabatina, que a Eletrobras precisaria investir R$ 11 bilhões ao ano, para manter a participação dela no mercado, que é de 1/3 de capacidade de geração do país e 50% das linhas de transmissão.
“ Mas, ele omitiu que nenhuma empresa aplica 100% do valor da obra que vai construir . Ninguém pegou R$ 30 bilhões do bolso para construir a usina de Belo Monte. Normalmente se investe 20% desse custo. Os 80% restantes são empréstimos de bancos privados e públicos”.
“A Eletrobras hoje tem um lucro líquido de R$ 5 bilhões ao ano, independente de patrimônio e outros ativos. Ela poderia investir R$ 2,2 bi, que são os 20% dos R$11 bi que ela precisaria para manter a sua participação no mercado”.
Operação Lava Jato causou prejuízos para a Eletrobras
A empresa disse que o lucro do quarto trimestre de 2018, de R$ 12,07 bilhões reverteu um prejuízo de R$ 3,9 bilhões no mesmo período do ano anterior, enquanto o resultado anual foi positivo em R$ 13,3 bilhões.
A direção da estatal alega que o lucro foi decorrente em parte, da redução de “impairment” – que é a reavaliação do valor do patrimônio.
Ikaro explica que o “impairment” ,é como se uma pessoa comprasse um carro no valor de R$ 100 mil e na hora de revender descobrisse que o veículo vale R$ 60 mil, menos do que avaliava. Após algum tempo decide vender novamente e na reavaliação o carro vale, R$ 80 mil.
“Foi o que aconteceu com a usina nuclear de Angra 3. A usina precisava dar andamento em suas obras, mas a Operação Lava Jato interrompeu os investimentos e, com isso seu valor foi reduzido em R$ 15 bilhões. Agora, após reajustes na tarifa de energia que a usina produz, sua avaliação subiu R$ 7,2 bilhões, mas este é um lucro de patrimônio e não financeiro”, diz Ikaro.
Já em relação ao aumento de R$ 2,97 bilhões no lucro referente à venda de seis distribuidoras das regiões Norte e Nordeste, o engenheiro da Eletronorte explica que as distribuidoras foram vendidas por apenas R$ 50 mil cada e que o lucro apontado , na verdade, é decorrente da distribuição das dívidas que as distribuidoras possuíam e que a Eletrobras se livrou em parte delas.
“Quem comprou ficou com uma parte insignificante das dívidas, a maior parte ficou na conta da Eletrobras e do governo”, explica.
Fonte: Fisenge