O 8 de março é a data em que mulheres ganham parabéns, recebem flores e chocolates, ganham descontos especiais em farmácias e também formam multidões nas ruas em protestos por igualdade e respeito. Mas, afinal, qual a origem do Dia Internacional da Mulher?
Não há um episódio único que justifique a escolha da data e sim um conjunto de fatores. Ao longo de cem anos (1800 a 1900) a data vem sendo construída por diversas mobilizações e greves de mulheres operárias em diferentes países. Em um tempo em que os direitos trabalhistas ainda eram incipientes, elas reivindicavam melhores condições de trabalho, salários dignos e o fim das jornadas extenuantes.
Neste contexto, dois episódios somaram decisivamente para a definição do Dia Internacional da Mulher: no mês de março de 1857, nos Estados Unidos, mais de 130 operárias em greve morreram queimadas dentro da fábrica em que trabalhavam. Já em 1910, no dia 8 de março, houve a proclamação da II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas.
NOSSOS TEMPOS
Estamos no século 21, a realidade do mundo do trabalho é outra, não há dúvidas. Basta olhar para as relações trabalhistas, ouvir os relatos de vida, comparar os dados para confirmar a necessidade de existir uma data para reivindicar a igualdade de condições e o respeito às mulheres.
No cenário brasileiro atual, os altos índices de desemprego e avanço da precarização das relações de trabalho afetam de maneira mais contundente a vida das trabalhadoras, piorando o quadro da desigualdade de gênero.
A proposta de Reforma da Previdência apresentada pelo governo Bolsonaro, em fevereiro, traz medidas que aprofundam as condições de desigualdade para com as mulheres. Atualmente não há idade mínima na aposentadoria por tempo de contribuição. Na modalidade por idade, as mulheres precisam chegar aos 60 anos. Caso a proposta seja aprovada, a idade mínima passa a ser 62 anos, com indicativo de aumentar, quando a expectativa de vida dos brasileiros subir, entre outras mudanças prejudiciais.
Esse projeto da previdência ignora a jornada dupla e tripla da mulher. Além do trabalho fora de casa, muitas vezes acumula a responsabilidade com o cuidado da casa, dos filhos e por vezes dos idosos da família. As mulheres trabalham mais, estudam mais, porém, recebem menos do que os homens. É o que comprova o estudo de Estatísticas de Gênero divulgado pelo IBGE em março de 2018. São em média três horas por semana a mais do que os homens, numa combinação de trabalhos remunerados, afazeres domésticos e cuidados de pessoas da família. Apesar disso, as trabalhadoras ganham cerca de 76,5% do rendimento dos trabalhadores, se comparada a remuneração. O dado se torna mais preocupante quando levamos em conta o maior grau de instrução das mulheres: na faixa etária dos 25 a 44 anos de idade, 21,5% das mulheres tinham graduação, contra 15,6% dos homens.
FEMINICÍDIO
Quando o assunto é violência, os dados assustam e comprovam uma piora nos últimos anos. A cada minuto, 9 mulheres foram vítimas de algum tipo de agressão no Brasil. 42% das vítimas apontam a casa como o local da agressão, conforme aponta a pesquisa “Visível e Invisível: A vitimização de mulheres no Brasil”, lançada pelo Datafolha e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2019.
O número de estupros cresceu 8,4% de 2016 para 2017, de 54.968 para 60.018 casos registrados – 1 a cada 8 minutos. Os casos de feminicídios (assassinato de uma mulher cometido por razões da condição de sexo feminino, quando o crime envolve violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher) passaram de 929 em 2016 para 1.133 em 2017. Os dados são do 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em 2018.
Não faltam motivos para estarmos juntas e fortalecidas neste 8 de março. Por isso nós, do Coletivo de Mulheres do Senge-PR, convidamos todas as engenheiras a se somarem ao sindicato em defesa do futuro do País por mais segurança, dignidade e igualdade de condições para todas as mulheres!
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Luciana Bruel Pereira | Engenheira Civil, diretora do Senge-PR e representante do Coletivo de Mulheres do Senge-PR na Fisenge.
Ana Paula Aletto | Engenheira florestal, da Regional de Maringá e suplente do Coletivo de Mulheres do Senge-PR na Fisenge