Como parte da programação de palestras do III Encontro Estadual do Senge Jovem Paraná, realizado em Faxinal do Céu, na manhã de sábado, 21 de julho, o engenheiro civil, professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e diretor do Senge-PR, José Ricardo Vargas de Faria, proferiu a palestra magna “A Conjuntura Global, angústias e anseios da nova geração de engenheiros no Brasil”. Em sua fala, Faria explanou sobre as relações classistas, as relações de poder e a estrutura do capitalismo no Brasil, e expôs o histórico de políticas econômicas dos governos Lula e Dilma, que promoveram a conciliação de classes em um primeiro momento, mas, quando este processo foi interrompido, ocasionaram o golpe de 2016.
Para facilitar a compreensão da influência que a luta de classes e as relações de poder tiveram na construção da atual conjuntura brasileira, Faria resgatou o processo de industrialização do Brasil e de outros países que viveram o capitalismo tardio, e o estabelecimento das estruturas deste capitalismo, baseado na superexploração das classes trabalhadoras.
Ele lembrou que o capitalismo é um processo de valorização e acumulação de riquezas, e que estados capitalistas viabilizam as condições para a acumulação, como fizeram os governos Lula e Dilma (primeiro mandato). As políticas sociais e de investimentos em desenvolvimento e infraestrutura não promoveram apenas avanços sociais, mas econômicos. “Quanto mais o estado gasta, mais ele ganha”, esclareceu, lembrando que os três mandatos citados não tiveram déficit fiscal.
Então, veio 2015 e a mudança da política econômica, com desoneração fiscal, queda na taxa de juros e cortes de investimentos, influenciada pelo cenário nacional e pelos efeitos internacionais retardados das crises de 2008 e de 2011. Este foi o primeiro ano desde 2003 a registrar déficit fiscal. A mudança provocou uma ruptura no processo de conciliação de classes, já que as condições para acumulação de capital foram interrompidas. Aí aparece o movimento de desestruturação e substituição do governo Dilma. “Eu não vou pagar o pato. Mas alguém vai”, lembrou Faria.
E o pato foi pago com o teto dos gastos públicos, a reforma trabalhista, a redução de renda e a precarização das condições de vida das classes mais baixas. A redução da capacidade do estado de investir fez com que as classes mais altas retornassem para o antigo método de acumulação de riquezas: a superexploração. “Os ricos não perdem em momentos de crise. Quanto maior a crise, maior a concentração de riquezas. Não é preciso crescer, é preciso acumular”, destacou.
A engenharia na conjuntura atual
Segundo Faria, a nova geração de engenheiros começa a sentir as consequências deste retrocesso com a onda de privatizações, a deterioração das condições de trabalho, a terceirização, e o corte de investimentos em novas tecnologias: “a engenharia é uma das primeiras áreas afetadas, todo desenvolvimento passa pela engenharia”.
Ele ainda destacou a pressão que entidades regulamentadoras brasileiras sofrem para autorizarem a atuação de profissionais estrangeiros no país, que vêm junto com companhias exteriores e assumem os meios de produção e a tecnologia nacional, mas ignoram o talento local. Com a geopolítica nacional e internacional cada vez mais influenciada por movimentos neoliberais, e a globalização da burguesia, é necessário fortalecer espaços de debate e dialogar com o mundo, buscando aliados em uma visão internacionalista.
Faria também salienta que o modelo universitário técnico e a educação produtivista, voltada para o mercado de trabalho, pode prejudicar a formação crítica do estudante, que acaba sem os elementos necessários para identificar a produção ideológica e as narrativas criadas pela burguesia. “A produção ideológica faz parte das disputas e relações de poder, e a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante”, conclui.
Texto e fotos: Luciana Santos, jornalista do Senge-PR