Fique em casa, consuma energia elétrica e pague pelos reajustes da tarifa. Essa conta mágica fez com que a Copel obtivesse um lucro extraordinário em 2020. O resultado da empresa pública com ações no mercado chegou a R$ 3,9 bilhões de lucro líquido no ano, representando aumento de incríveis 90% em relação ao mesmo período de 2019. O recorde histórico também vai agraciar os investidores privados com o maior repasse de dividendos. Nada menos do 65% do lucro de 2020 vão irrigar as contas dos acionistas da Copel. Estamos falando de R$ 2,54 bilhões. Isso sem contar a venda da Copel Telecom, que ainda não entrou no caixa. Por fim, outro recorde, só que negativo, é a demissão de 1,6 mil copelianos em três anos.
De acordo com Daniel Pimentel Slaviero, presidente da Copel, apesar da pandemia de Covid-19 que levou o estado ao colapso de saúde, “chegamos ao final do ano com a consciência de missão cumprida: um resultado excepcional para a Companhia, para os investidores, para o setor elétrico e para o Paraná”.
Daniel,em comunicado aos investidores, disse que antes de obter lucro extraordinário, “priorizamos a saúde e a segurança dos nossos empregados, com a implementação de home-office para a maior parte deles e a adoção de medidas de prevenção rigorosas para os profissionais que continuaram trabalhando em campo”.
Porém, a forma como a empresa conduziu a pandemia é questionada por sindicatos. Principalmente por conta da exposição de funcionários para que a companhia continuasse atuando em todas as frentes para fornecer energia de qualidade a mais de 11 milhões de paranaenses. Os números de contaminados e daqueles que faleceram, por exemplo, não entram no relatório feito ao mercado, na avaliação de Leandro Grassmann, presidente do Senge-PR.
“Existem dezenas de milhares de trabalhadores na Copel, Sanepar e Compagás que estão sendo obrigados a trabalhar em muitas manutenções que poderiam ser postergadas. 9,5% dos empregados já tiveram Covid. E são trabalhadores preteridos na vacinação. Que essencial é esse que não tem direito a ser vacinado prioritariamente?”, alerta Grassmann.
Mas, para Daniel, a condução da empresa durante a pandemia, aliado a austeridade, foco nos investimentos e em produtividade, mais uma ação judicial que desobriga a Companhia a recolher Pis e Cofins sobre o ICMS contribuíram para o lucro exorbitante.
“O resultado foi o maior lucro da história da Copel, de R$ 3,9 bilhões, batendo o recorde de 2019, que era o maior até então. Além disso, temos o orgulho de destacar que, mais uma vez, a Copel cumpriu rigorosamente sua meta de investimentos, com obras em geração, transmissão e distribuição de energia, contribuindo para fortalecer o setor elétrico e prover infraestrutura de qualidade para o desenvolvimento do país”, comemorou Daniel.
Bolso iluminado, copeliano desempregado
O pagamento de dividendos tão elevados aos acionistas contribui para que os investimentos sejam reduzidos. A Copel reduziu muito o que é investido de 2018 para cá. A queda foi de 2,57 bilhões de reais para 1,9 bilhões previstos para 2021. “Com menos investimentos, menos capacidade de manutenção da qualidade de atendimento”, aponta o presidente do Senge-PR.
O resultado bilionário se obteve à custa dos funcionários. É menos gente trabalhando, mais pessoas terceirizadas. “Fizemos um grande corte de funcionários. Reduzimos 480 pessoas em 2020 e iniciamos a terceirização do Call Center. Isso representa uma redução de cerca de 7% no quadro de empregados. A expectativa é de uma economia em torno de R$ 68 milhões nos custos a partir de 2021 e de mais R$ 9 milhões a partir de 2022. Já foram desligados 1600 funcionários em três anos. 20% de redução nesse período”, comemora o presidente da Copel. Agora, a empresa conta com 6649 funcionários.
Copel comemora mudança nos critério do PLR
O banco Itaú questionou a mudança da PLR dos funcionários. Segundo a Copel, a PLR de 420 milhões de reais foi reclassificada com novas leis aprovadas na Assembleia Legislativa do Paraná. Eram 171 milhões de reais já previamente contabilizados e outro valor extraordinário, porque havia uma distorção com a lei.
“A lei revogada tornava o PLR isonômico entre os funcionários, independente da função. Outra lei de 2007 atrelava o PLR aos dividendos. Agora, as vendas de ativos não servem para a conta e em segundo que dividendos não tem nada ver com o resultado da companhia. Existiam essas distorções que foram corrigidas, felizmente para todos nós, pois remunera a meritocracia”, observa o presidente da empresa.